28 de novembro de 2010

ELOGIO DO SETE ( 7 )



Cá por mim, gosto do sete (7). É um número cabalístico e eu gosto de tudo aquilo que está no limbo do conhecer: pronto a ser conhecido ou desconhecido. Regresso à infância. Na velha casa da Avó, camponesa analfabeta, junta com um médico rural, meu avô paterno, que lhe fez conscienciosamente muitos filhos ...(pois se ela era tão linda, como não? ), o céu, todo estrelado, contemplava-se na escadaria do velho casarão da aldeia. Todos sentadinhos no escadório de granito, como se estivéssemos a adorar o Deus-menino. A guitarra do tio Armando dedilhava uns lirismos conimbricenses. E eu olhava para cima, para toda aquela cúpula semeada de pontos luminosos, a piscar, a piscar. Era então que a Avó vinha junto a mim, me acariciava os caracóis (eu tinha caracóis nessa altura, muito antes de ter esta calvície renitente) e dizia : “então meu menino, estás a olhar o Sete-Estrelo” ? E novamente chegava a magia do número sete. Muito antes de eu saber que Israel não é, decididamente, o Povo Eleito, muito antes do conhecimento das inomináveis brutalidades sobre os palestinianos, a minha Mãe, que era uma católica fervorosa, falava-me das Sete Tribos de Israel. Dizia ela que eram sete, que eu nunca as contei. Depois, num momento muito grave da minha vida, foi numa divisão da quintarola do Ladário que eu redigi, em solidão cenobita, a minha tese de doutoramento, durante meses a fio (teriam sido sete?). Mas uma coisa eu posso dizer: a divisão onde o fiz, virada à Serra da Estrela, a perder-se na lonjura, tinha sete janelas. E mais não conto. Que isto de falar demais de nós, pode dar origem a uma camisa de onze varas, menos quatro. Entendido?