Dos milhares de milhões de astros que povoam o infinito Universo, cabe à espécie humana um só. Este nem sequer é relevante se o encararmos do ponto de vista territorial. Há-os mais vastos. E não é igualmente digno de nota se o imaginarmos na sua relação directa com o sistema solar de que faz parte. Por outro lado, de momento, nada sabemos sobre o fenómeno da vida noutros planetas, sendo certo o ilogismo de imaginarmos que esse fenómeno da vida não se tenha repetido num outro qualquer ponto físico, desde que sujeito a iguais ou muito idênticas condições de pressão, humidade, temperatura, etc. Mas o nosso lar terreno é especialmente digno aos nossos olhos, uma vez que é por nós habitado. Por isso, no Livro Sagrado da civilização judaica-cristã se sublinha que Deus criou o Céu e a Terra. Ou seja: o redactor do estupendo texto deu-se à lógica estranha de equiparar o imperceptível ponto astral que habitamos ao multiforme e misterioso Universo que nos é estranho. Há nisto uma vaidade e suficiência que aflige os humildes. Tal aflição é a mesma que nos visita quando o Livro dos Livros nos diz que o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Se o Livro dos Livros tivesse declarado que esse Deus fora imaginado à imagem e semelhança do Homem, outro teria sido o destino da espécie, nos milénios de história já cumprida. Veja-se o que pode fazer - ou desfazer - a sequência das palavras ! E não deixa de ser simbólico, talvez profético, que seja coincidente a agonia da Terra, cada vez mais estéril, mais agredida, mais explorada e mais débil na sua biodiversidade, com o colapso judaico-cristão da ideia de Deus. Resta Maomé? Talvez. Mas aí a teoria é ainda mais aberrante: Ele criou o Corão, o Céu e a Terra, talvez por esta ordem. E se for deixado à rédea solta, Ele decretará a conversão de todos os astros à lei da lapidação. Basta que os astros, absortos nas suas ignotas leis físicas, não aceitem a lei moral corânica. Coitados dos astros-fêmea. Coitados!
