15 de dezembro de 2012
A MADURA ESTAÇÃO
Já alguma vez tiveste saudades de ti ? //
De ti que foste um dia //
De certo modo e de vária feição. //
Lembras-te ? Era no tempo //
Em que o sol rodava à tua //
Como um Galileu transviado; //
Eras ou julgavas ser o eixo do teu mundo //
E tu levavas Laura pela mão. //
Laura ou Dinamene ? Pouco importa : //
Camões já não se ocupa destas coisas. //
Era então que tudo gerava poentes vermelhos //
E papoilas impacientes em campos de trigo. //
Dançavas um minuete todo arcaico //
E não davas conta de que a baga da romã //
Quebrara já a casca verde da madura estação. //
Lembras-te de ter saudades de ti ? //
Não por então, não nessa altura, não nesse tempo //
De Laura ou Dinamene no centro do coração //
De algum Camões versejador mas ocupado. //
Muito depois, bem mais tarde, tiveste saudades de ti; //
Mas não soubeste bem porquê. Nem eu to vou dizer. //
Escuta, escuta essa raiz silenciosa e saberás //
Que também tu quebraste a casca verde //
Do fruto que contém, inteiro e vago, a madura estação.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário