10 de setembro de 2009

HOMENAGEM A WIM WENDERS


Quando Damiel e Cassiel volitavam

pávidos ou impávidos pelos céus de Berlim

e quando a pobre gente sofredora

por saber que morreria na mortalha da manhã

em certo dia, em dada hora, em contado tempo

na tumba antecipada de Berlim

quando toda essa legião de proscritos

do tempo de Berlim esventrado quis saber

se Damiel e Cassiel eram ou não apenas

imagens furtivas de cúpulas doiradas

ao sol ambíguo de Berlim

e perguntaram aos ventos, à trapezista,

ao acidentado, ao suicida, aos bandos

de estorninhos de Berlim (mas seriam

estorninhos mesmo a sério ou só a alma

dum cansado caminheiro a soltar-se da largueza

do sobretudo velho?)

quando enfim todos quiseram saber se

depois de cada agonia – diferida mas inexorável –

cada um poderia vir a ser um Damiel relutante

ou talvez um Cassiel reticente, anjos volitantes,

anjos expectantes, anjos mutantes de sítio e de sentido

na patrulha sem fim do chão contorcido de Berlim,

Wenders inseriu a expressão

PARA SER CONTINUADO ´

no fim do fotograma.

Foi então que todos e cada um procuraram na cama,

no sono do cansaço e da porfia

que chega sempre enxuto, exausto ao fim do dia,

o enigma indecifrável, guardado a sete chaves

nos sete céus afogueados de Berlim.

Vai Damiel ! ( se é que apresentas provas de existir)

Voa Cassiel ! ( se é que tens penas nas asas p’ra subir)

rasgai névoas e guerras

ide por todas as terras

anunciando como certas, em telhas altaneiras,

as improváveis e fagueiras promessas de Berlim.

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