7 de julho de 2008

REFLEXOS DE ÁGUA


Lançamos uma pedra às águas paradas e a resposta é-nos dada sob a forma de círculos concêntricos, que se vão desenhando de forma cada vez mais oscilante. Encrespam-se as águas dentro de limites bem definidos, como se uma regra íntima comandasse a resposta dada ao nosso gesto. Dou-me a pensar que é também desta maneira que o mundo da nossa sociabilidade se constrói. O círculo mais pequeno é o da nossa família directa, apresentando contornos precisos e contidos. Mas logo vem o círculo mais dilatado dos amigos da juventude ou dos simples conhecidos que vamos encontrando por aqui ou por ali. Lentamente, formamos a ideia de país, já mais vasta do que a de família, mas inesperadamente próxima do primitivo modo de ser. Há que sublinhar a proximidade vocabular, em língua portuguesa, da palavra pais e da palavra país, penhor provável de uma parentela moral mais ampla, mas sentida, emotivamente, em moldes muito semelhantes. Outros círculos concêntricos são traçados pela pedra da Consciência na água da Convivência. O último deles chama-se Género Humano. É de todos o mais ondulante e problemático. Mas é também o mais amplo. Atrevo-me a dizer que é também o mais belo. É nele que se joga o valor e o préstimo do Cidadão do Mundo, consagrado desde a experiência vivente e convivente da “polis” grega.
A questão está toda em saber se as fontes desta universalidade ainda permanecem cristalinas. Faltam-nos filósofos e sobram-nos técnicos de publicidade. E estes, quando atiram as suas pedras à água, nunca conseguem o equilíbrio do concêntrico. Vá-se lá saber porquê!

1 comentário:

Anónimo disse...

CÍRCULOS CONCÊNTRICOS

Não custa amar os nossos, os parentes,
os que nos são mais próximos na vida,
incluindo amigos, mesmo os mais recentes
mas não valendo menos... à partida.

Seguidamente vêm os conterrâneos
que entre frnteiras formam o país
gerando em nós afectos espontâneos
por termos uma idêntica matriz.

À medida que o círculo se alarga,
vai-se também vaporizando a carga
do que compete a cada cidadão.

O mal maior, por isso, é dos que estão
já fora desses círculos causados
pelos calhaus ao lago arremessados!

João de Castro Nunes