30 de setembro de 2012

ALQUIMIA

Guardemos o Infinito num dedal // E bebamo-lo bem devagarinho. // Façamos o que digo de mansinho … // A finitude do viver humanal // Ampliada na soma dos dedais // Dará à fragilidade do carnal // A mutação de tal menos nesse mais.

21 de setembro de 2012

O SENHOR GENERAL ALMEIDA BRUNO E A DEFESA DA VIRGINDADE PATRIÓTICA

O Senhor General Almeida Bruno é um guapo militar. E valentaço cumócaraças ! Usa uns óculos “Ray Ban” que lhe vão a matar, tem aspecto de pegador de toiros em tardes de glória do Campo Pequeno e é sobremaneira moderado e democrata. Reparem no que disse o ilustre filho de Marte: “Os militares só virão para a rua se os cabrões da Esq uerda aparecerem com bazucas”. O jornal “O Diabo” titulava isto a letras gordas. Quero dizer que eu compreendo muito bem o “casus belli” do ilustre filho das casernas. Que se pode depreender da afirmação deste grande Patriota, se fizermos um esforço para entendermos a sua ejaculação ideológica “a contrario” ? Entenderemos que os militares nunca virão para a rua se os cabrões da Esquerda não aparecerem com bazucas. Ora, isto enternece. Isto descontrai. Isto desoprime. Estava a gente aqui a pensar que uma bazucazita até fazia jeito numa dessas “manifs” desopilantes e vem esta glória fardada garantir que não, que não há bazucas para ninguém, porque os militares não querem chatear-se e não virão para as ruas , caso estas permaneçam virgens de bazucadas. Tudo nos quartéis, guardando as G3, os submarinos e as enternecedoras bazucas. Aqui, assalta-me uma dúvida, uma daquelas perplexidades aporéticas, uma angústia que sobe das partes baixas até ao toutiço. E a dúvida é esta. E se “O Diabo” se enganou ? E se nesta arrojadíssima campanha dialéctica se suscitou uma gralha ? E se aquilo que o General dos “Ray Ban” declarou foi outra coisa ? Mas que coisa, que coisa? Imaginemos que este filho da guerra declarou para o jornalista : “Os militares só virão para a rua se os cabrões da Esquerda aparecerem com brazucas” ? Ora aí está ! Atento à pureza dos lençóis e às poluções nocturnas, o que o General Almeida Bruno teria dito é que a virgindade é um bem precioso a defender e que os cabrões das Esquerdas poderão “ tirar o cavalinho da chuva” , pois não haverá brazucas para ninguém. Ele não deixa ! Abençoado General ! Viva a Comunidade Luso-Brasileira ! Amen !

19 de setembro de 2012

QUAL "NOSSA `DÍVIDA" ? NOSSA; O TANAS !

A esmagadora maioria dos cidadãos portugueses nada fez, ao longo da sua vida pessoal e profissional, para produzir a crise em que nos atolamos. Essa esmagadora maioria está em completo estado de inocência, pois não foi ela, no caso dos funcionários públicos não-políticos, a determinar o seu nível remuneratório ; não foi ela a furtar-se ao pagamento dos impost os legalmente previstos na lei ; no caso da normal iniciativa privada, não foram estes comerciantes ou industriais – na esmagadora maioria dos casos – a sofismar e contornar a legislação que lhes comandou os negócios; uns e outros não assaltaram bancos, não frequentaram off-shores, não desviaram dinheiros para contas na Suíça, não receberam dinheiros públicos por baixo da mesa, não traficaram influências e não se tornaram réus de evasão fiscal. Se assim foi, a sua responsabilidade no descalabro actualmente existente, é nula. Quando alguns políticos de carreira nos ensurdecem com frases do género de “temos de pagar o que devemos”, há seguramente milhões e milhões de portugueses que podem replicar, com toda a legitimidade : - “mas eu não devo nada a ninguém”. Ou seja, há um discurso político que, pela sua insistência, se ocupa e preocupa em enganar os concidadãos e em gerar neles um calculado e calculista sentimento de culpa. Não foram eles que se encheram de mordomias; não são eles que compram e utilizam automóveis topo-de-gama para as suas deslocações ; não foram eles que criaram e subsidiaram Fundações ridículas e completamente inúteis ; não foram eles que enxamearam a Administração central e local com filhos, sobrinhos, afilhados e apaniguados; não foram eles que criaram um Parlamento com o dobro ou o triplo de Deputados necessários ao correcto funcionamento da Democracia ; não foram eles que decidiram que cada ex-Presidente da República deveria ter ao seu serviço uma incontável legião de funcionários e polícias ; não foram eles que criaram Conselhos de Administração em organismos públicos onde se ganha, por Administrador, num dia, o que um português normal não ganha em seis meses ; não são eles que ocupam os lugares de mando de Empresas públicas e privadas que funcionam completamente à margem da decência e da moral ; não foram eles a estabelecerem ordenados de nababo para os Malatos, os Rodrigues dos Santos e a demais bicharia masculina e feminina da RTP ; não foram eles a decretar reformas muito antes do tempo normal para a politicagem; não foram eles a privilegiar os estômagos que digerem no Restaurante da Assembleia da República com preços irrisórios para cardápios de “gourmet”. Eles não fizeram nenhuma destas coisas. E é a esta gente que se grita “temos de pagar a NOSSA dívida” ? A NOSSA ? Qual NOSSA ? Paguem-na VOCÊS, que são os verdadeiros beneficiários do sistema.

17 de setembro de 2012

CARTA A ANTO

Este poema é dedicado a António Nobre, o poeta do "Só". Foi inspirado pela sua "Carta a Manuel", incluída no mesmo livro. Anto, para onde teria desertado // Teu país de marinheiros e ceifeiras ? // Portugal é Cristo de chaga ao lado // Com danosas ervas crescendo nas leiras. // Anto, não padeças do mal de conhecer ; // E se fores a Tentúgal, trata de ver primeiro // Se ainda sobra verde nalgum reverdecer // Ou se tudo foi tragado por neves de Janeiro.// Sabes, Anto, Portugal é um enfermo como tu, // A tossicar prenúncios de alguma hemoptise // E a procurar no débil e rendido corpo nu // O assomo de força que o salve da crise. // Vive, pois, no torreão dourado que foi teu // Cultiva por aí um silêncio sem esperança // Pois se teu Povo não souber que perdeu // Só te resta morrer … sem mais tardança.

3 de setembro de 2012

PORTUGAL É LINDO POR SER POBRE !

O Dó-Tôr Pedro Passo de Coelho tem de ser ajudado. Há que dar-lhe boas ideias, para que ele cumpra o desígnio de salvar Portugal. Por mim, avanço com uma ideia que me parece praticável. Portugal tem de ser um país apelativo para turistas. A este nível, deve impor-se este pátrio torrão, através de fortes ideias promocionais. O Dó-Tôr PP de Coelho deveria lançar, com u rgência, o slogan “Venha ver o país mais pobrezinho da Europa”. Eu bem sei que ele já se está a esforçar muito neste sentido. Mas há bastante mais a fazer. Os pobres como atracção turística, eis a chave do sucesso. Imaginem turistas a sair do avião em Lisboa e no Porto. Na gare, só pedintes, limpos mas esfarrapados. As cafetarias só poderiam vender água quente – nada de cagalhufices como chazinhos ou bebidas adocicadas. Tudo autêntico, tudo local. Depois, o transporte para os centros citadinos deveria fazer-se em carroças. Mas nada de falta de asseio. Todas as carroças deveriam apresentar aquelas fraldas de cavalo para receber os cagalhões dos mesmos. Hotéis só de uma estrela. Mas sem baratas e pulgas. Nada de night-clubs. Só Grupos excursionistas e recreativos, com visitas à Porcalhota ou a Xabregas, incluindo um lanche constituído por um pão ressequido – mas ainda não bolorento – e um bolo de bacalhau (sem bacalhau, claro). Seguir-se-ia a visita a uma Escola. Trezentos e cinquenta alunos para dois professores, uma vigilante e um polícia. Este último, por razões de contenção orçamental, era o responsável pelas aulas de Língua Portuguesa, Filosofia e Música. Nesta última disciplina, o Docente, faltando instrumentos musicais, assobiava o Hino do PSD. Depois, a turistada seria encaminhada para o interior da Nação. Aqui aparecia outro slogan : “Vá ver o barrocal mais solitário da Europa”. Os visitantes seguiam em passo de corrida e bicha de pirilau para a Cova da Beira. Por razões de contenção orçamental, tinha-se tapado a cova e eles só ficavam na beira. E viam coelhos, muitos, famélicos e com ar aparvalhado, a retouçar umas relvas anémicas, amareladas e pífias. À volta, nem vivalma. E se algum turista mais abelhudo perguntasse para onde tinham ido os residentes, receberia a resposta de que no país mais teso da Europa não há residentes. A população, por razões de contenção orçamental, é toda nómada. O regresso aos hotéis far-se-ia por meios próprios, ou seja, a locomoção de pé-posto. Mas haveria a distribuição de uma garrafinha de água da torneira por turista, com a hipótese de dose dupla para os que tivessem “angina pectoris”. A recepção oficial teria de ser feita, neste país mais pobrezinho da Europa, no Paço das Necessidades. Aí, cada um faria as suas. Mas numa só casa de banho, por razões de contenção orçamental. Seguia-se o arraial. Ia buscar-se o polícia do assobio à escola sem professores e punha-se o gajo a assobiar o Hino do PSD. Nessa altura, estando presente o Dó-Tôr PP de Coelho, seria previsível que o turistame lhe quisesse oferecer um outro arraial. De porrada, sem apelo nem agravo. Portugal é lindo!