28 de abril de 2011

JAIME RAMOS E O SEU MANIFESTO PATRIÓTICO


Amanhã à noite, dia 29 de Abril, irei apresentar em Penela o livro do meu Amigo, Dr. Jaime Ramos, intitulado “Não basta mudar as moscas …” (Chiado Editora). Sinto-me especialmente honrado por ter sido convidado para realizar esta apresentação. As razões deste sentimento são várias, mas as duas mais relevantes radicam, por um lado, na profunda admiração que me merece a postura cívica do Cidadão Jaime Ramos; por outro lado, não tenho a menor dúvida em declarar que o conteúdo da obra em causa é profunda, salutar e radicalmente reformulador da Democracia que (não) temos. Poderia utilizar o termo “revolucionário”. Mas esse ficará reservado para os “guitarristas” do costume …

Recomendo vivamente a todos os Amigos e Amigas a leitura do livro de Jaime Ramos. E creio que, após a publicação desta obra, o Dr. Jaime Ramos assume perante o País a responsabilidade, elevada e patriótica, de chefiar o processo de mudança. Um livro que revela da parte de quem o escreveu a fibra, o desassombro e a capacidade de rotura que nele se revela, não consente que o seu Autor dê a tarefa por terminada no preciso momento em que se esgotar o seu consumo pelo mercado dos leitores. Espera-se, assim, do Político, do Filantropo, do Antigo Autarca, do pretérito Governador Civil de Coimbra, do Patriota Jaime Ramos o mais alto serviço que poderá e deverá prestar aos portugueses: realizar no terreno, na agreste e decepcionante realidade que temos, o que tão bem preconizou nas linhas tracejadas do seu manifesto cívico, que nos remetem para o que queremos (e merecemos) ter. Se o fizer nos termos enunciados no seu livro – e não vejo razões que o paralisem ou o façam titubear – contará com o meu apoio e a minha lealdade. Só não coloco aqui a expressão “incondicional apoio” porque as posições de Jaime Ramos não contemplam a mudança do sistema no sentido do Presidencialismo Democrático. Mas também não se lhe poderia, para já, exigir tudo. Não é, Dr. Jaime Ramos?

26 de abril de 2011

UMA PÁSCOA TRANSMONTANA

Tive uma Páscoa transmontana : andei por Bragança, Miranda do Douro, Izeda e pelas regiões imediatamente adjacentes. O que vi não consente a equivalência com a gloriosa ressurreição de Jesus. O que me foi dado observar foi uma região em agonia. Nas aldeias existem velhos encostados à ombreira das portas e prédios antigos em avançado estado de ruína. Nas vilas lobriga-se um ou outro miúdo: em regra, a filharada de ciganos taciturnos. O resto é fácil de narrar: automóveis modestos que arribaram na quinta-feira, com gente já habituada à cidade. Os motores aqueceram quase todos no fim do domingo, para o regresso à urbe onde se trabalha, por bem ou por mal. Houve velhos que choraram à chegada e à partida e que sorriram no intervalo. E por lá ficaram, entregues à monotonia, à saudade, ao desencanto, ao ermo da terra por lavrar e do dinheiro por ganhar. Os autóctones são admiráveis de doçura e de benfazejo acolhimento. E queixam-se pouco, o que é ainda mais trágico.

Bragança tem metade do núcleo histórico completamente rebentado: todo o casario com mais de sessenta ou setenta anos oferece ao turista o estendal da porta entaipada, da vidraça partida, do telhado vacilante, da caliça que vai caindo para o vão dos passeios, em suma, da promessa próxima do colapso. Assim na “costa grande” e na “costa pequena”, assim em muitos dos lugares mais nobres. Salva-se o castelo, com a sua graciosa Torre de Menagem e a reminiscência dos “homens-bons” da sua “Domus Municipalis” ? Salva, sim, mas para logo se descaracterizar numa arrulhada de espanhóis irrequietos, mais ciosos dos comeres e dos beberes luso-godos do que da pitança artística.

Falemos, então, em Arte Sacra. O rumo foi definido pelo espantoso recheio da catedral de Miranda do Douro, que talvez mereça umas linhas em separado. Numa montra, “Os Lusíadas” e “O Principezinho”, em mirandês. Miranda oferece-nos um espaço urbano de mão-cheia: autêntico, equilibrado, pouco sujeito à fúria vandálica dos patos-bravos. Mas também lá fui encontrar uma portugalidade envelhecida e trôpega, facilmente referenciável por entre o magote da invasão pascal que o Povo vizinho não dispensa.

Portugal afigurou-se-me um galeão pôdre e esburacado, por entre o singrar ligeiro das escunas hispânicas, percorrendo, em evidente alacridade, as ruas cuidadas do lugar. Espanha irá cair, também, neste grande “varrer-de-feira” do neoliberalismo criminoso? É possível. Mas aqueles “gadjos” são de outro tutano. Não desertam de si mesmos com o mesmo fatalismo que o luso animal cultiva. Por isso, salvar-se-ão muito antes de nós.

Em Izeda esperei o “compasso”, na entrada da casa de uns parentes. A casa implanta-se num largo oblongo, ostentando numa das pontas uma “chega de bois” ingénua, saída do trabalho metalúrgico de um presidente de Junta de freguesia, já falecido. E o “compasso” lá chegou, justificado por quatro crianças vestidas de brando, um adulto com a cruz metálica bem areada e pronta a beijocar e um seminarista que fez questão de rezar um “Padre Nosso” pelos que já tinham ido. Depois, foi o “que Nosso Senhor ressuscitado vos guarde” e o tropel a caminho do lar mais próximo.

Reparei que, à direita da Igreja Matriz, existia um poste. E que no cimo do poste se recortava uma cegonha diligentíssima, compondo e recompondo um ninho. Pois … talvez ainda haja Esperança … talvez.

18 de abril de 2011

NOBRE, O "BOM RAPAZ" ...


Fernando Nobre justificou-se: após três conversas com Pedro Passos Coelho, descobriu nele um Estadista, um ser humano das mais estimáveis qualidades, um chefe capaz de salvar Portugal da catástrofe. Foi então por isso que Nobre decidiu esquecer o assédio que o PS também lhe tinha dirigido pelo namoro que o PSD lhe veio propor. Fernando Nobre declarou também que gostaria de ocupar o cargo de Presidente da Assembleia da República para poder levar por diante um projecto de “Cidadania de proximidade”.

Eu não acredito que o Dr. Fernando Nobre seja um calculista primário e despojado de valores éticos. A sua vida fala por si. Assim sendo, resta-me considerar esta figura o mais acabado exemplo de ingenuidade que a democracia formal conseguiu produzir em Portugal, no decurso de toda a sua vigência. Uma escolha do calibre daquela que foi feita por Nobre, assente em três conversas, ao arrepio de muito do que antes sustentara na campanha presidencial, na escuridão radical do programa político do PSD – que admitiu não conhecer –, é um caso notável de menoridade de juízo e de puerilidade de opinião.

A outra vertente da questão é a do voluntarismo de alguém que não sabe que as funções do Presidente da Assembleia da República são quase de índole mecânica – falas tu, agora interrompes, depois peroras tu, agora vota-se, etc, etc … - e que o sistema não está preparado para admitir outra moldura e outro tipo de protagonismo. Salvo melhor opinião, é este fundo de ingenuidade, este voluntarismo sem substância, que tem feito do Dr. Fernando Nobre uma figura errática, juntando à falta de rumo alguma falta de siso.

Para terminar, a Cidadania “ de proximidade” ou “de diálogo” que este Cidadão se proporia desenvolver, esbarra com as características do proponente. Fernando Nobre é uma figura completamente privada de eloquência: mastiga palavras, enrola ideias em digressões obscuras, salta de frase em frase com uma imprevidência e uma leveza incompatíveis com a gravidade da asserção fundada e acaba por dar de si a imagem de um colegial desajeitado e demasiado crédulo.

Prevejo que o Dr. Fernando Nobre virá a ser o “bode expiatório” das prostitutas partidocráticas, bem batidas e cheias de ronha, que dele se irão servir. Por isso, mais do que o condenar, eu devoto-lhe desde já um sentimento de profunda piedade. É que o tempo já não vai para “bons rapazes” …

15 de abril de 2011

VAN GOGH


Choro de lírios sob o riso dos sóis

E tu aí – frágil e nua em poente de sangue.

Depois disseram que o homem estava louco

Por se ter mutilado. E ninguém entendeu

Que o homem cortara a orelha

Por se recusar a decepar os lírios

E por se ter lembrado daquela antigo amor

Que deixara um dia, frágil e nu

Em poente de sangue.

E a Natureza física, como geografia fusiforme

Veio perturbar a memória do pintor

Sem que ele admitisse uma só vez

Que lírios poderiam decepar-se ao poente

Ou que um amor do passado pudesse latejar

Fútil, frágil e nu, em poente de sangue.

11 de abril de 2011

UMA ATITUDE SEM PINGO DE NOBREZA

Não basta ser-se filantropo e altruísta para se ser coerente. Fernando Nobre acaba de esfacelar publicamente os restos da sua credibilidade. Ao aceitar ser o cabeça de lista por Lisboa pelo PSD, nas próximas eleições legislativas, Fernando Nobre não se limitou a defraudar a maior parte dos numerosos votos que angariou nas últimas eleições presidenciais; ele também reforçou a ideia de que nos encontramos no “reino-do-vale-tudo” e atolou sem remédio o princípio da coerência e da independência. Nobre tratou de “governar a vidinha”. E todos estamos agora em condições de lhe dizer que os que lhe apontaram desde cedo o protagonismo de uma conduta civicamente errática e oportunista têm agora a certeza de que não é com ele que se pode contar para a emergência de um Portugal mais limpo, mais dignificado e menos manipulado.

3 de abril de 2011

O CANSAÇO


O cansaço

É um traço

Horizontal

Numa folha de papel

Almaço.


O cansaço

É um laço

Vertical

Que nos prende

A vontade

Sensual.


O cansaço

É o tropeço

Angular

Dum mar

Sem amor.


O cansaço

É um óbvio

Pacóvio

Que não cheirou

Heroína.


Que cansaço,

Menina !