
23 de maio de 2007
ELOGIO DE MEFISTÓFELES

21 de maio de 2007
ÉTICA E SOCIEDADE

15 de maio de 2007
TOADA GARRETTIANA

No cesto da gávea
O homem do mar
Espia a fronteira
Do seu labutar.
Um cesto suspenso
Num barco vazio
Possui como senso
O seu desafio.
Bate a onda o casco
Igual por igual
Indiferente ao drama
Do Bem ou do Mal.
Olhos de gageiro
Não podem cerrar
Sem verem primeiro
O fim do seu mar.
E fitam, procuram
A norte e a sul,
Guardando do céu
Esse imenso azul.
É o Mal vermelho?
É o Bem azul?
O Bem vai p'ró norte?
Vai o Mal p'ró sul?
Gageiro suspenso
Num cesto de mar
Espia a fronteira
Do seu labutar.
Num cesto suspenso
No meio do mar
Sem orla de praia...
Há que mourejar!
9 de maio de 2007
ALEGORIA DO TEMPO

4 de maio de 2007
SOBRE A INOCÊNCIA

- Sim, as crianças são uma maravilha quando os adultos o sabem ser também.
- Significa isso que não acredita na inocência?
- Eu não sei se a inocência existe. Acredito, isso sim, na existência da inconsciência. Um bebé enternece-nos porque o vemos abandonado à sua inconsciência. Repare o meu Amigo que alguns estudiosos da natureza humana se negaram a conferir à infância, só porque é infantil, um estatuto angelical. Freud, por exemplo, não deixou de dizer que as crianças são, no seu comportamento sexual, a versão mais acabada da “perversidade polimorfa”. Por outro lado, registam-se frequentemente os mais aberrantes comportamentos infantis para com os animais. Há crianças que gostam de endoidecer cães, atando-lhes chocalhos aos rabos; outras, fazem inflar o corpo de sapos ou de rãs, ao ponto de lhes provocarem o rebentamento; outras ainda, divertem-se com a mutilação de insectos. O que me parece acontecer é que os seres humanos têm uma imensa necessidade de se imaginarem puros, cândidos, impolutos, num qualquer momento das suas vidas. E por não lhes ser possível descortinar, em momentos mais adiantados da respectiva evolução, uma tal e tamanha condição arcangélica, daí que a tenham reportado às fases mais atrasadas do seu desenvolvimento.
- Acha então que as crianças são pérfidas, maldosas, perversas, como queria Freud?
- Não necessariamente. O que acho é que as crianças não têm uma natureza diversa da dos adultos. Nem diversa, nem, necessariamente, melhor. A alegada inocência das crianças resume-se, em meu entender, à latência do seu potencial. E este tanto pode expressar-se numa futura harmonia de valores, num decidido e positivo avanço para a Luz, como numa posterior disfunção de crenças e atitudes, ou seja, num retrocesso sem remédio para as Trevas da crueldade, do egoísmo e da frigidez afectiva. Na maior parte dos casos, a criança irá plasmar no mais íntimo dela própria uma simbiose de Luz e Trevas, dependendo, no concreto, a composição da sua futura personalidade da orientação do respectivo processo educativo. Acho indispensável que, mais do que celebrar no abstracto a mirífica inocência das suas crianças, cada sociedade pergunte, momento a momento, o que está a fazer por elas e como as está a educar. Afinal, tudo (quase tudo?) depende disso.
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