Addison quis um dia caracterizar o Humor, contando uma história. Referiu ele que a Verdade fundou uma família de que nasceu o Bom Senso. Este gerou o Espírito, que, por seu turno, se casou com uma donzela chamada Alegria. O primogénito deste enlace foi o Humor.
Filho do Espírito e da Alegria, o Humor nasceu com o código genético e com os cruzados temperamentos dos progenitores. O Espírito observa, analisa, compara e pondera. A Alegria desliza sobre as coisas e mantém para consigo e para com todos os demais um descomprometimento um pouco estouvado. O pai Espírito não deseja precipitar-se. Por isso, como bom chefe de família, preocupa-se com os gastos da casa e com a segurança do grupo familiar. Dirá ele, como todos os bons chefes de família, que os tempos não vão para brincadeiras; por isso, terá de haver contenção de gastos e tento na administração da vida. A mãe Alegria é um pouco como a cigarra da fábula. Por isso lhe replica: - Ora essa! A vida são dois dias e um deles já está a mais de meio; além do mais, os antigos afirmavam (e bem) que de hora a hora Deus melhora.
O casal deu-se bem, ainda que nem sempre tivesse reinado a concordância. Quanto ao Humor, herdara do pai um fundo de nostalgia melancólica, disfarçado por uma garridice de comportamento que denunciava a costela materna.
Entendemos agora que todos os grandes humoristas tenham de equilibrar-se na corda tensa da análise racional e da bonomia risonha. Eles não nos fazem rir a bandeiras despregadas. Fazem-nos apenas (apenas?) sorrir. Lembram-se de Buster Keaton? De Charlot? Mesmo até do Bucha e do Estica? Não verificamos, se estivermos atentos, que sobre eles paira uma nuvem de incongruência quase trágica? Keaton faz rir sem que ele próprio esboce um rasgado sorriso. Charlie Chaplin, na melhor fase dos primórdios, secava as lágrimas à jovem paralítica que queria ser dançarina, ou então iludia a sua fome e a de um garoto adorável. Laurel e Hardy foram os desprevenidos e inocentes trapalhões dum mundo que dificilmente os suportou e acolheu. Sim, é isso: o humorista é um comentador de uma plateia que sorrirá com os seus jocundos comentários, mal se apercebendo do discreto fio da sua filosofia sem ilusões. É que, na cumplicidade destes sorrisos, ficarão suspensas, ao menos por instantes, as duras fatalidades da condição humana.
Filho do Espírito e da Alegria, o Humor nasceu com o código genético e com os cruzados temperamentos dos progenitores. O Espírito observa, analisa, compara e pondera. A Alegria desliza sobre as coisas e mantém para consigo e para com todos os demais um descomprometimento um pouco estouvado. O pai Espírito não deseja precipitar-se. Por isso, como bom chefe de família, preocupa-se com os gastos da casa e com a segurança do grupo familiar. Dirá ele, como todos os bons chefes de família, que os tempos não vão para brincadeiras; por isso, terá de haver contenção de gastos e tento na administração da vida. A mãe Alegria é um pouco como a cigarra da fábula. Por isso lhe replica: - Ora essa! A vida são dois dias e um deles já está a mais de meio; além do mais, os antigos afirmavam (e bem) que de hora a hora Deus melhora.
O casal deu-se bem, ainda que nem sempre tivesse reinado a concordância. Quanto ao Humor, herdara do pai um fundo de nostalgia melancólica, disfarçado por uma garridice de comportamento que denunciava a costela materna.
Entendemos agora que todos os grandes humoristas tenham de equilibrar-se na corda tensa da análise racional e da bonomia risonha. Eles não nos fazem rir a bandeiras despregadas. Fazem-nos apenas (apenas?) sorrir. Lembram-se de Buster Keaton? De Charlot? Mesmo até do Bucha e do Estica? Não verificamos, se estivermos atentos, que sobre eles paira uma nuvem de incongruência quase trágica? Keaton faz rir sem que ele próprio esboce um rasgado sorriso. Charlie Chaplin, na melhor fase dos primórdios, secava as lágrimas à jovem paralítica que queria ser dançarina, ou então iludia a sua fome e a de um garoto adorável. Laurel e Hardy foram os desprevenidos e inocentes trapalhões dum mundo que dificilmente os suportou e acolheu. Sim, é isso: o humorista é um comentador de uma plateia que sorrirá com os seus jocundos comentários, mal se apercebendo do discreto fio da sua filosofia sem ilusões. É que, na cumplicidade destes sorrisos, ficarão suspensas, ao menos por instantes, as duras fatalidades da condição humana.