2 de setembro de 2011

MUNCH E A ANSIEDADE

Há gente em busca de si, depois de lhe terem prometido o Paraíso. Antes da promessa, a vida que se vivia era normal e sem sobressaltos. Também sem muitos sonhos, certamente. O sonho é aquele pedaço de alma que se recolhe no sudário do “talvez seja, talvez possa ser, um dia será”. Mas é, em tal caso, apenas a esperança contida nos limites da descrença, que , apesar de tudo, ainda faz correr as imagens do mito na tela da ilusão. Durante a promessa, tudo pareceu alcançável. Por isso, os olhos reverberam de crença e de paixão. Prometer é criar sempre uma Juventude artificial, de céu sempre azul e de poentes afogueados. E um dia a promessa falha. Instala-se então o lento morticínio das faces bambas, arroxeadas, e dos olhos vazios. O que impressiona é essa distância que os olhos fitam sem ver. Sim, decerto uma ponte cheia de gente vazia. Uma ponte sem gente, embora pisada por centenas de pés. E um céu lívido, nos antípodas dessa promessa incumprida : tal como esta “Ansiedade”, que Edvard Munch um dia pintou.

1 comentário:

João de Castro Nunes disse...

A vida é toda ela feita
de promessas não cumpridas,
encontrando-se sujeita
a desilusões seguidas!

JCN