Faz frio lá fora, não achas?
As coisas estão brancas por dentro
E a terra revela o estranho silêncio do estéril.
Ao longe, um sol redondo e menos do que morno;
Ao perto, expressões de amantes desavindos.
Está frio aqui, não achas?
Acende-se a lareira?
Mas como e com quê?
A lenha só existe em árvores transidas.
Ainda agora vi um pássaro de penas eriçadas
De pavor e solidão.
Não, não caem co’a calma as aves.
O que cai sobre nós é o protesto de raízes
Procurando alcançar um renovado alento de seiva.
Faz frio, muito frio, não é ?
O fogão de sala prescindiu da sala e ficou só.
E nós também.
Somos frio, não somos?
4 comentários:
Camoneando:
INEXTINGUÍVEL CHAMA
Nossas almas precisam de calor,
não do calor do sol ou da lareira,
mas daquele que brota da fogueira
que em nós ateia e faz lavrar o amor.
Ele tão-só, mesmo fazendo frio
à nossa volta, sem fogão de sala,
as nossas alma em seu colo ambala
num mar de chamas como sendo estio.
Não conhece estações o amor sincero
nem género nenhum de oscilações,
como por mim constato e assevero.
Mesmo caindo neve nas montanhas,
o amor com seus flamígeros carvões
não deixa arrefecer nossas entranhas!
JOÃO DE CASTRO NUNES
Corrijo a gralha "ambala" por "embala". JCN
Talvez nos tenham apagado o calor. Mas eu prefiro pensar (talvez sonhar) que ainda há quem. :)
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