20 de dezembro de 2011

MICROCOSMO-MACROCOSMO



Quando se devassa a realidade – ou o que é suposto sê-lo – com um microscópio electrónico, acontece o que nunca poderíamos imaginar possível. O salto do infinitamente pequeno para escalas de grandeza que nos eram insuspeitas revela um mundo de novidade insuspeitada. O que era apenas a ruga indelével, apresenta-se como a garganta de um abismo; o que passava por ser uma simples penugem, dá-se-nos como o torso imenso e negro do que parece ser uma planta incomensurável; uma pequena variação de pele, uma verruga, por exemplo, revela um temeroso dorso de descontinuidade. As coisas passam a ser outras, porque sujeitas ao olho ciclópico de uma máquina de aumentar. E eis-me assaltado pelo pressentimento de que estou a ser observado pela pupila de Andrómeda ou pela iris do olho imenso de uma outra realidade, tão distante que, longe de me magnificar, me reduz à poeira, longe de me engrandecer, me situa na rasura do espaço minúsculo. Tudo muda então. E para que me servem as regras da lógica, os normativos dos códigos, os princípios da epistemologia, a própria dialéctica? E para que me serve o servir-me? Ou o servir-me de ? Há quem diga que desaparecem coisas no “triângulo das Bermudas”. É possível. Basta que se abra, a partir da vontade de Andrómeda, uma infinitésima partícula deste Ser global.

2 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Por muitos olhos que tenha,
o que Andrómeda não faz
é um soneto à João Penha,
por disso não ser capaz!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Cada criatura vê
o mundo à sua medida,
ninguém sabendo porquê
Deus nos fez esta partida!

JCN