22 de fevereiro de 2012

A GUERRA DAS ÁGUAS



A hora que passa é gravíssima: eclodiu a “guerra das águas” na vetusta e prestimosa Assembleia da República. O Partido Socialista andava, desde há muito, preocupado com as sumptuárias despesas da classe política. Neste particular, ele poderia iniciar a sua acção morigeradora pelos vencimentos de nababo dos Administradores públicos, pelos esbanjamentos das parcerias público-privadas, pelas inconcebíveis derrapagens das obras públicas oficiais, que são pagas três, quatro e mais vezes sobre a orçamentação original, pelos gastos dessas Instituições póstumas e fossilizadas que se identificam com os ex-Presidentes da República e com os ex-Presidentes da Assembleia da República, os quais, mesmo em pousio, salvaguardam o direito a automóvel fornecido e pago pelo Erário, e também a motoristas, e igualmente a um secretariado, e ainda a funcionários administrativos, e sei lá eu a mais quê. O Partido Socialista poderia ir por aqui e por mais uma miríade de temas, justificadores do facto indesmentível de existir numa das mais débeis economias da Europa uma das mais presunçosas e delapidadoras classes políticas desse mesmo espaço. Mas não. Por algum lado teria de se começar. E o Partido do Seguro escolheu, seguríssimo, as águas consumidas pelos Muito Ilustres e sedentos Deputados de ambos os sexos. Ora essa, então era lá possível que se preferisse a burguesíssima água mineral à popular e proletária água da torneira !?? E foi então que surgiu a proposta. E, na sequência da proposta, romperam as hostilidades. De um lado, as velhinhas torneiras de S. Bento, que debitaram o honesto líquido em que lavaram as mãos, talvez, o José Estêvão, o Duque de Ávila, o Marquês de Saldanha, o António José de Almeida, o Alves Martins, Bispo de Viseu, o Conselheiro Coiso, primo do Acácio. Do outro lado, alinhadas e refulgentes no seu plástico acabado de encher, as garrafinhas de Fastio, do Vidago, das Pedras Salgadas, da Serra do Açor, dos cumes da Estrela, das nascentes de Penacova. Os exércitos, de dentes a ranger, estiveram ao ponto de se engalfinhar quando o Lello apareceu e obtemperou: “A proposta é uma insensatez. Seria preciso que se comprassem copos e jarros, muitos copos e abundantíssimos jarros; e que houvesse um “staff” especializado na limpeza dos ditos copos e dos aludidos jarros, todas as vezes em que as gargantas dos Senhores e das Senhoras Deputadas já estivessem completamente regadas pelo líquido elemento”. E Lello acrescentou : “ Só na compra de jarros gastar-se-ia uma pequena fortuna, algo a rondar os 4.500 ou 5.000 euros”. Aí, as torneiras de S. Bento irritaram-se deveras e replicaram: “Pois olhe, nós, que até somos de cobre, já não vemos “Solarine” há mais de três gerações e nem sequer reivindicamos esse elementar direito de sobrevivência que consiste em nos substituírem a tubagem ”. Mas o Lello trazia as continhas feitas, tim-tim-por-tim-tim. E rugiu, solene: - “O consumo de água mineral é trinta vezes mais barato do que a ingurgitação da água da torneira”.
Parece que o Partido Socialista não irá dar-se por vencido. Aguardam-se, temerosos, feros, rugidores, os próximos episódios. Parece que, por solidariedade, os autoclismos da Assembleia da República entrarão todos em greve. E ainda não se sabe como o Lello irá descalçar esta bota. O que consta é que reforçou a sua encomenda de água de colónia. Fez bem.

1 comentário:

João de Castro Nunes disse...

Ele há cada deputedo
com lugar no parlamento
que é de se fugir de medo
ante o seu discernimento!

JCN