28 de março de 2013

UMA PITADA DE HUMOR NEGRO

No combóio Alfa de ontem, o assento atrás de mim era ocupado por um homem, dos seus quarenta anos ou menos, que entre a estação de partida e a de chegada realizou bem para cima de vinte chamadas do seu telemóvel. Como eu ocupava a cadeira da frente, não tive outro remédio senão saber que se deslocava para o funeral da esposa de um amigo ; e que o dito amigo continuava a ser sovina ; que este e a defunta nunca se tinham dado bem ; que ele ia tentar que o viúvo lhe pagasse um calote antigo ; que ele imaginava que esse dito viúvo "iria ficar muito bem, porque afinal quem era rica era ela , que a terra lhe seja leve" ; que por acaso até constava que a defunta, imediatamente antes de se revelarem os sintomas da última doença, desconfiava que o marido andava metido com uma certa amiga, por acaso viúva recente ; que a eventual cobrança da dívida até lhe daria muito jeito, porque a danada da crise era madrasta para todos. Isto foi calmamente partilhado com cerca de duas dezenas de outros amigos, alguns dos quais, ao que parece, também iriam ao funeral. Atenção que isto é uma ficção. Eu ontem até nem andei de combóio.

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