28 de dezembro de 2007

PEDRO PESCAVA HOMENS


Pedro pescava homens e limos velhos
Na borda dum infeliz lago galilaico.
Alguém o avisara que por cada alma
Filada, escorchada e ao sol espalmada
Um Deus viria pregar-se numa cruz
Com Mãe e Madalena e soldadesca ébria
A compor o quadro choradinho do Calvário.
Pedro fizera farta pescaria de fadigas sem fim
Mas só lograra arpoar um vagante madeiro
Que boiava na babugem aquosa e penitente,
Na borda do infeliz lago galilaico.
Pedro imaginou então que os restos do pútrido
Madeiro mais não fossem que os restos pecaminosos
De homens refractários ao quadro choradinho
Daquele Calvário sem Mãe, sem Madalena
Sem soldadesca ébria a jogar dados.
Pedro, então perplexo, perguntou aos céus
Ou a si mesmo, ou mesmo a ambos, se mais sagrado
Seria o Calvário composto por Mãe, Madalena
E ébria soldadesca ou a podridão dos restos
Do madeiro, onde teriam pregado não um macerado
Deus mas a chusma orgiástica, pecaminosa
De transviados e terrenos penitentes.
Pedro, o pescador de homens e limos velhos
Passou então a querer filar na borda
Dum infeliz lago galilaico o mais sofrido de todos
Os homens, tendo como certo que assim poderia
Pescar o maior de todos os Deuses, na borda desse lago
Sem Mãe e sem Madalena, mas com a infinda compaixão
Do maior dos Calvários, onde agoniza a humana condição.

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