20 de janeiro de 2008

URGÊNCIA

É urgente que venhas
Vem depressa e já
Bichos estranhos
Invadiram por cá
O quintal dos afectos
Roem tudo (os danados)
Dos legumes aos fetos

Vem, vem sem detença
É urgente que tragas
Da despensa
A tal erva cheirosa
Que acrescentas
Airosa
À comida sem sal

Quando vieres (se vieres ...)
Por tardinhas inundadas
De sol
É urgente que inventes
É forçoso que infundas
No cansaço dos anos
No quebranto do corpo
Algo de vivo e novo
Um alento qualquer
Dos que tu sabes dar
Quando em ti não ressoam
Memórias do passado
Que tanto te magoam

E dá-me (se puderes ...)
A mansa
Confiança
Do teu amor adulto
Assim farás cessar
O meu tumulto

Quem poderá viver
Em morno adiamento
Como se fora
(Vê tu !)
Um requerimento
Jazendo e morrendo
Sem deferimento
Numa repartição
À portuguesa ?

Vem pois por mim
Solene, ilesa
É urgente que saibas
Agora e sempre
Que tudo estranhamente
Perde encanto
(E quanto !)
Se não chegas


É urgente que venhas
Fremente
Carente
E donairosa
Tal como a rosa
No fresco rocio
Da manhã
Enfim calma
Enfim silenciosa
Como virgem vestal
De tempos transitados
Coladas as bocas
Os corpos colados
No lamento
No fingimento
Na simulação
Na convicta
Inconvicção
Do que não é eterno
Mas tomado como pórtico
Final
Mas vivido como se fora
Imortal



Sem comentários: