30 de setembro de 2010

EMENTA REPUBLICANA


EMENTA PARA UM ALMOÇO (OU JANTAR) COMEMORATIVO DO CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

A minha Amiga e distinta Senhora Drª Dona Rosa Maria Resende de Oliveira, que reside em S. João da Madeira, solicitou-me, há algum tempo que lhe apresentasse uma sugestão para um almoço ou jantar comemorativo do Centenário da República. Não me fiz rogado e mandei-lhe a seguinte ementa, devidamente justificada. Mal eu sabia que a minha proposta iria ser executada, conforme notícia a que tive acesso. Mas passemos à apresentação da ementa:

Caldo verde

Bacalhau com batatas a murro

Pão de Alcântara e Queijo de Azeitão

Papos de Anjo

Leite-Creme Queimado

Vinhos do Dão e/ou do Douro

Cognac francês

Transcreve-se a notícia do que irá ocorrer no próximo dia 1 de Outubro em S. João da Madeira, conforme o que se diz no jornal “O Regional” (edição de 23 de Setembro de 2010):

Parceria Autarquia e Escola Secundária Dr. Serafim Leite

JANTAR REPUBLICANO CELEBRA O 5 DE OUTUBRO

O Projecto «Espaço Aberto» motivou uma parceria entre a Escola Serafim Leite e a autarquia sanjoanense para a celebração dos 100 anos da República, na realização de um jantar com a ementa a condizer com a efeméride. O restaurante «Fábrica dos Sentidos», do Museu da Chapelaria, receberá os convidados, onde, em ambiente republicano, será saboreada uma refeição com iguarias sugeridas pelo professor Amadeu Carvalho Homem. A Escola Secundária Dr. Serafim Leite e a Câmara Municipal criaram uma parceria através do projecto «Espaço Aberto», que se desenvolve naquele estabelecimento de ensino, para a comemoração do centenário da República. Esta iniciativa vem na sequência da já realizada em 29 de Janeiro último, nos Paços do Concelho, e que contou com a presença de Amadeu Carvalho Homem e António Arnaut. Assim, os promotores decidiram celebrar o 5 de Outubro com a realização de um «jantar republicano aberto, sigiloso e conspirativo», no próximo dia 1, um repasto que será servido no já refrido restaurante. As inscrições devem ser feitas antecipadamente, mediante o pagamento de 15 euros.

De acordo com os promotores, Maria Assunção Sousa, em declarações à nossa reportagem, o encontro, além do convívio que a mesa nos oferece, pretende “criar um espaço simultaneamente de comemoração e reflexão sobre a “res publica”, pelo que estão previstas algumas intervenções”, referiu.

A preocupação com a refeição levou os organizadores a pedirem sugestões para a ementa deste jantar. Por isso, segundo informações colhidas, a ementa integrará elementos simbólicos da efeméride. Os convivas poderão saborear as propostas sugeridas por Carvalho Homem, que tão graciosamente apresentou.

O caldo verde terá honra de mesa (uma das cores da bandeira), «pelo motivo óbvio de não se dever servir sopa azul e branca, demasiadamente “corcunda” (os “corcundas” eram os monárquicos, que se dobravam todos por ocasião do “beija- -mão” real e, por isso, ficavam irreparavelmente “encarquilhados”). Sobre a mesa abundará o pão de Alcântara, “em homenagem à gente revolucionária de Alcântara, que na altura acolhia ainda muitos marinheiros, os quais estiveram sempre com a República”. O queijo de Azeitão também terá honras republicanas, “para lembrar os pobres dos rurais das vizinhanças de Lisboa, mantidos na ignorância pelos poderes monárquicos”.

O caldo verde terá honra de mesa.

O eterno e sempre tão desejado bacalhau com batatas a murro (já que o 5 de Outubro foi cá um sopapo na aristocracia de ‘alto lá com ele’; e o Machado Santos ameaçou alguns dos seus combatentes de lhes dar uns tabefes, se eles abandonassem a Rotunda), fará crescer água na boca. Aconselha-se que a degustação do bacalhau seja bem regada com um vinho de primeira e esmerada qualidade - mas deverá inegavelmente falar a língua de Camões: poderá ser um Dão devido ao facto de os republicanos terem DADO uma boa trepa à gente do Senhor D. Manuel II ou mesmo um Douro (pois o regime republicano é DE OURO e tem de ser muito bem conservado), sugeriu Amadeu Carvalho Homem, filósofo, historiador e investigador na área da História Moderna e Contemporânea, professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Chegado o momento da sobremesa, “por escárnio”, serão trazidos aos convivas “os papos de anjo monárquico” (os “talassas” foram uns anjinhos, porque tinham superioridade militar e nem sequer a souberam usar), acrescidos de “leite-creme queimado à Carbonária” (os carbonários eram combatentes que iam “à queima”, para ganhar ou morrer). Para ajudar à digestão, depois da “barriga republicana se sentir abastada, será degustado um cognac francês, em homenagem à “Liberté, Égalité, Fraternité” (é a única concessão que deve ser feita a produtos estrangeiros, por especial deferência para com a revolução francesa de 1789). “O ágape deve terminar com um brinde democrático e com um “VIVA A REPÚBLICA” sonoro e sentido”.

Como indumentária festiva, a condizer com o acto celebrativo, os convivas deverão obrigatoriamente usar um laço bicolor verde-rubro, um hino aos 100 anos da implantação da República.

Por: António Gomes Costa

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