2 de agosto de 2011

TRIBUTO A VAN GOGH

Nada que possas dizer

Obriga o mundo a mostrar

O que de ti quer fazer.

Nada que possas pensar

Cumpre a sina de assinar

Um decreto do destino.

Hás-de ser sempre menino

Por nunca chegares a ter

Segredos na tua mão.

Serás talvez um tufão

Em dia sem vendaval ;

Uma alma tresnoitada

A brigar consigo mesma

Por tudo se volver nada.

Serás decerto o sinal

Imperceptível, fatal,

No modo como conjuga

A própria arte da fuga.

Melhor que tu é a flor

Que na morte decompõe

Mil cheiros em que viveu

Para recompor depois

As mil seivas que nutriu.

Mas tu, enfim, és o dois

Da unidade perdida

Trazes na alma essa ferida

Do que ficou por fazer.

Aceita, pois, o conselho:

Cheira a flor ao fenecer.

Fazendo do novo velho,

Do velho fazendo novo

E dos dois novo nascer.

Partirás então sem dolo

Envolvido no consolo

Dum fulgente entardecer.

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