Nada que possas dizer
Obriga o mundo a mostrar
O que de ti quer fazer.
Nada que possas pensar
Cumpre a sina de assinar
Um decreto do destino.
Hás-de ser sempre menino
Por nunca chegares a ter
Segredos na tua mão.
Serás talvez um tufão
Em dia sem vendaval ;
Uma alma tresnoitada
A brigar consigo mesma
Por tudo se volver nada.
Serás decerto o sinal
Imperceptível, fatal,
No modo como conjuga
A própria arte da fuga.
Melhor que tu é a flor
Que na morte decompõe
Mil cheiros em que viveu
Para recompor depois
As mil seivas que nutriu.
Mas tu, enfim, és o dois
Da unidade perdida
Trazes na alma essa ferida
Do que ficou por fazer.
Aceita, pois, o conselho:
Cheira a flor ao fenecer.
Fazendo do novo velho,
Do velho fazendo novo
E dos dois novo nascer.
Partirás então sem dolo
Envolvido no consolo
Dum fulgente entardecer.
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