14 de abril de 2012

NECESSIDADE, ACASO E DIALÉCTICA




Ao contrário do que é habitualmente aceite, o filósofo Heraclito não disse "Ninguém se banha duas vezes nas águas de um mesmo rio". O que ele disse foi isto: " Aos que se banham duas vezes no mesmo rio, outras são as águas que por ele correm". A diferença é abissal. Porque só na segunda formulação se torna visível a dialéctica do Mesmo e do Outro. Só assim nos aproximamos da compreensão da vida: o seu fluxo faz da nossa Identidade ou Mesmidade o Outro que o Tempo (um Tempo sujeito à alegoria da água) vai transformando. Assim vamos mudando, conservando o mesmo do que somos.

... e uma vez que a minha vida é marcada pela NECESSIDADE, por essas leis imprescrutáveis mas omnipotentes que me fizeram nascer, e crescer programadamente, e atingir a maturidade quase sem dar conta, e ir envelhecendo ao longo do meu ciclo (não são só as mulheres que têm ciclos, só que nos nossos ciclos, nós, machos, sangramos PARA DENTRO), uma vez que isto é assim, esforçar-me-ei por preferir a DESNECESSIDADE, o ACASO, o jogo de dados (sem batota), a ERRÂNCIA, não fora o estômago voltar a mandar-me comer, a horas certas (está na hora do homem branco ter fome) e sem escapatória.

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