5 de abril de 2012

NOTAS DE UM POBRE E MORTAL AGNÓSTICO - (2)

Falámos na representação antropomórfica do Divino. Hoje daremos algum espaço às suas manifestações históricas. Se o Divino é Uno e Único, então a sua concretização histórica deveria também ser unitária. E os seus princípios normativos deveriam ser os mesmos. Mas não é isto que se verifica. Assinale-se, desde já, este imenso paradoxo: as religiões monoteístas falam em abstracto de um Deus único e depois particularizam-no historicamente com um invulgar sentido de exclusividade. Para os cristãos, o Deus Único é Jesus Cristo; para os maometanos é Alah; para os judeus é Iavé. Mas Cristo, Alah e Iavé não se manifestaram através do mesmo lastro histórico, não viveram de igual modo as suas experiências de concretização histórica e nem sequer respeitaram as mesmas cronologias: Iavé é mais antigo do que Cristo e este mais velho do que Alah. Claro que quem quiser sustentar estes tipos de religiosidades, a tudo o custo, dirá que tudo isto é manifestação de um só e mesmo princípio, que a linguagem de Deus é simbólica e blá-blá-blá … Mas, a ser isto verdade, então mal se compreende que ao longo da história da Humanidade tenham campeado inenarráveis formas de mútuas perseguições religiosas e de intolerâncias abomináveis. Tudo isto, esta sanha dos cristãos contra os judeus e dos maometanos contra todos os outros – e de todos os fiéis contra todos os “cães infiéis” - ( a terminologia é, no mínimo, uma maravilha de bom senso e de humanitarismo…) – tudo isto constitui a forma acabada da perversão humanitária. Também os tais princípios normativos divergem: a Thora é muito distinta dos Evangelhos e estes muito diferenciados do Corão. Depois, é fácil perceber que todas estas religiões monoteístas são tremendamente misóginas: as mulheres são mantidas sob suspeita. Nuns casos são vistas como as “serpentes do mal”; noutros, como absolutamente subalternas ; noutros, como simples desencadeadoras de orgasmos de serralho. Já ouço os defensores destas coisas (ia escrever patranhas, mas coíbo-me por respeito a quem não pensa como eu) , todos esses defensores dirão que o que aqui alego é marginal à essência da doutrina, à Vontade de Deus, e mais blá-blá-blá … Em suma: as três religiões monoteístas possuem a especificidade de virem introduzir, relativamente ao todo da espécie humana … o politeísmo! Admirável coerência! E todos vêm a terreiro bradar, em muitos casos com profundíssima indignação: “Não, a MINHA religião é a ÚNICA verdadeira”. E eu lembro-me do profundo e saudável relativismo que comanda tudo e quedo-me. A única Verdade Absoluta é a que nos diz que NÃO HÁ verdades absolutas.

2 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Perante a sua cerrada
e forte argumentação,
só nos resta a crença herdada,
que não pomos em questão!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Se algum dia a Inquisição
me obrigasse a renegar
a minha fé de cristão,
eu mandava-a... bugiar!

JCN