13 de setembro de 2007

A UM FILÓSOFO ANTIGO

Viveu na Grécia
Do saber ancião
Que se venera
Nos livros da tradição.

E disse coisas mil,
Mil maravilhas
Cujo rumor subtil
Semelhava poalhas
De pedaços desfeitos
Na descomposta
Bola de sabão
Da humana natura.

Pasmou o Criador
Da criatura
Gerada
Em sua sombra
Fatigada.

"Que ousio é esse,
Miserando Heráclito ?
Foi com a potestade
Do meu fito
Que a ilusão
Da permanência
Por mim parida
Se aninhou no ventre
Do que chamam real.
É meu desígnio oculto
Alimentar na vida
O mito da constância
Convertido em verdade.
Pretenderás agora
Roubar-me identidade?
Que ousio é esse,
Miserando Heráclito ?"

Heráclito disse então:

"Tão longe, longe estais
Em tão ignotas messes
Que supondes imóveis
As submissas preces
Dos mortais.
Outra morada temos
E tudo mudaremos
Para Vos transformarmos.
Gira no corpo o sangue
Na erva a seiva
E o sémen no sexo.
E tudo reproduz
O seguro amplexo
Da nossa mutação.
Somos teu reflexo ?
Alguns o asseveram.
Destino ou maldição
Nos demos ou nos deram.
Será por Ti a morte
Decretada.
Porém, é nossa a vida
Palmilhada
No sustentável câmbio
Da nossa servidão.
Se isto não entendes,
Se a isto nos condenas,
Se por isto pretendes
Crivar-nos de mais penas,
Faz-te humana e mortal,
Impura e reticente,
Blasfema, venal,
Cruel e renitente
Oh Potestade!
Deixa teu sólio,
Renega teu Empíreo
E faz-te gente.


1 comentário:

Luís Alves de Fraga disse...

Caro Amigo,
Não, não venho comentar.
Venho dar-lhe conta da alegria de o ter de volta ao «Livre e Humano» que diariamente fui consultando nestas férias que o não foram, por ter estado amarrado à secretária.
Todos nós, os seus leitores, esperamos por mais.
Um abraço