Em Janeiro de 1974, um grupo de Cidadãos de Coimbra solicitou ao Governador Civil da altura a necessária autorização para a realização de uma sessão pública nesta cidade, comemorativa do 31 de Janeiro de 1891, pretendendo, deste modo, evocar a primeira movimentação revolucionária, infelizmente frustrada, que pretendeu implantar a República em Portugal.
Essa sessão pública estava projectada para o Teatro Avenida. Seria presidida pelo Professor PAULO QUINTELA e nela usariam da palavra AIDA PIRES ROCHA, ALBERTO VILAÇA, ANTÓNIO ARNAUT, CARLOS FRAIÃO, LUÍS CARLOS JANUÁRIO, LOUZÃ HENRIQUES, MANUEL RIBEIRO DOS SANTOS, REGINA CARVALHEIRO e VICTOR COSTA. É necessário que o nome destas individualidades seja escrito com maiúsculas, dada a firmeza das convicções democráticas e republicanas de que deram mostras e a que, segundo supomos, se mantiveram fiéis.
O pedido a que aludimos mereceu do Governador Civil, Engº Cunha Matos, o seguinte despacho:
« Em Coimbra não se pode alegar qualquer tradição na comemoração do 31 de Janeiro. Com o requerido pretende-se realizar uma sessão de propaganda política, sem fundamento aceitável. Nestes termos, indefiro. 28 de Janeiro de 1974. Assina – Leopoldo da Cunha Matos ».
2 comentários:
Caro Amigo,
Tenho vindo a ler, desde 22 de Janeiro, as suas postagens neste blog. Optei por me silenciar face à série de sintéticas lições que deu sobre a propaganda republicana no tempo da Monarquia. São, como disse, sintéticas, mas preciosas, as suas palavras às quais nada de jeito poderia acrescentar; tudo o que eu dissesse iria perturbar o silêncio que deve seguir-se a uma lição de Mestre. Havia que meditar e saborear a mostra do passado justificativo da vitória retumbante de 5 de Outubro de 1910. Nesse dia não foi a Monarquia que cedeu o lugar à República; não. Foi a data em que se materializou o sonho de muitos cidadãos anónimos e de grandes vultos do pensamento nacional; foi a alvorada de uma nova Pátria mais crente em si mesma, mais desejosa de se realizar.
Esse sonho há ainda muita gente que o não compreende. É um sonho que só em muito pouco se pode relacionar com a democracia que vivemos. De facto, se as forças da reacção não se tivessem levantado na madrugada de 6 de Outubro de 1910 para iniciarem a sua feroz oposição ao milagre de renascimento que os mais ousados republicanos acalentavam, Portugal seria hoje, por certo, um outro país com outra gente. Se a Igreja não tivesse reivindicado a manutenção da sua quota-parte no obscurantismo nacional, se os monárquicos em vez do Rei tivessem preferido a Pátria, se os descrentes das mais ousadas reformas tivessem dado as mãos a todos quantos desejavam um Portugal maior, talvez hoje este debate não fizesse o menor sentido. E o pior de tudo é que todos quantos estiveram contra o sonho republicano lançaram raízes no solo social e germinaram; germinaram no pútrido Estado Novo, não permitindo que gerações atrás de gerações pudessem sonhar com a renovação, com outro renascimento de Portugal, com uma terra onde imperasse a instrução, vicejasse a educação, florescesse o Direito e onde o respeito e a honestidade fossem a moeda corrente nas relações entre cidadãos.
Passaram-se trinta e quatro anos sobre a data em que, liberto o país da opressão obscurantista, poderiam os Portugueses entregar-se à tarefa de renovação. Cresceram as estradas, os bens materiais impuseram-se, a liberdade foi assumida como um direito sem contra-partidas em obrigações e em Portugal, por causa da sua incapacidade de mudança, continua por se cumprir plenamente o sonho republicano.
Desculpe-me… Fui longo, como sempre!
Um abraço
Senhor Prof. Alves de Fraga:
Permita-me que me associe em plenitude às suas lúcidas e judiciosas considerações a respeito das "sínteses" que, com o seu brilhantismo habitual, o Senhor Prof. Amadeu Carvalho Homem tem vindo a elaborar sobre as circunstâncias em que, na sociedade portuguesa, emergiu o espírito do movimento republicano, cuja pureza de ideais importa, agora mais que nunca, reacender, redifinir e clarificar. Por uma boa causa. Por uma Democracia... sem mazelas. Por um país em que dê gosto viver. Muito respeitosamente.
João de Castro Nunes
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