Estou à espera de Deus na colina de Gólgota
Ele há-de vir quando tiver acabado o jogo dos dados
Com os soldados que lhe mataram o Filho
Virá todo enlaçado a Maria Madalena
A meretriz provável daquela improvável salvação
E será insultado por todos os credores desse lugar
Olha lá, velho dum raio, quando pagarás tu
De uma vez e sem refilar
Tudo o que nos prometeste?
Fazes-te de novas, finges não perceber?
Então tu julgas que esta pobre gente
A quem vendeste o mito de a teres criado
Aceita do velho sátiro que és
O testamento infame que lhe dás?
A Salvação em troca de um Filho morto?
Ora adeus, velho dum raio
Pois não te dás conta que já ninguém te atura?
Nem o passaroco do Espírito Santo tem já por ti respeito
Voou anteontem com uma pomba ladina e cheia de cio
Não acreditas? É natural. Tu nunca acreditaste em homem nenhum
Dizem que só os fizeste (se é que isso é verdade)
Para os matar a seguir
Depois, como te pesava a consciência,
Mandaste o pateta do teu Filho
Morrer também deploravelmente
Mas para logo a seguir subir ao céu
E o pobre do Tomé meteu-lhe a mão
Na chaga do lado
Para testemunhar que era mesmo ele
O supliciado
O condenado
O falecido
E queres que acreditemos nisso?
O que tu fizeste foi um passe de mágica
Semelhante ao que praticam os mágicos de feira
O teu filho nunca morreu
Porque nunca chegou a viver
É uma simples patranha
P’ra enganar papalvos
Tu o que verdadeiramente gostas
É de nos ver cheios de medo de morrer
Agora basta
Leva lá a Madalena para te aquecer os pés
Leva lá o Tomé e manda-lhe lavar as mãos
(as feridas infectam na Terra e no Céu)
E vê se morres de vez, ouviste?
Ou então faz-nos eternos aqui em baixo
E mostra enfim que és Deus.
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