15 de fevereiro de 2011

SINA DE "PORTUGA" ...

"Descansa, rapaz! Vais continuar aí dependurado por mais cem anos..."

Existem duas Europas : a católica e a calvinista; a normativa e a anárquica; a res-publicana e a res-mafiosa; a construtora de Futuro e a nostálgica do Passado; a laboriosa e a parasitária; a previdente e a dissipadora. A primeira corresponde geograficamente à Europa Central e à Europa do Norte; a segunda ocupa, em termos amplos, a fatia mais próxima da bacia mediterrânica. Estas duas Europas nunca irão conseguir uma aliança de boa-fé. A segunda jamais apreciará o rigor administrativo e a seriedade decisória da primeira. Um cidadão da Europa consistente terá sempre presente que os seus índices de bem-estar não podem ser alcançados à margem dos cómodos e das garantias que os demais concidadãos também tiverem. Um “cívico” da Europa “berluscónica” partirá sempre do princípio de que o Bem Comum é uma treta e de que quem não tem “padrinhos” morre mouro. Os princípios de solidariedade da primeira Europa foram na segunda substituídos pela expressão com que Alexandre O’Neill nos caracterizava : “vamos mas é fazer pela vidinha…”. A “vidinha” é, no pátrio poiso, o golpe do baú no casamento, a mão-de-finado no testamento, o videirismo na política, o suborno na Administração, o oportunismo no negócio, o “depois-de-mim- que-se danem” na partidocracia. É uma espécie de prodígio providencial que este país ainda não tenha desaparecido. A única razão para tal prodígio deve estar no facto de que, depois de nos tornarmos conhecidos, no nítido contraste das respectivas endogenias, ninguém nos quer. Fomos um rebanho disciplinado enquanto tivemos a ameaça das ditaduras a pesar-nos sobre os lombos: Salazar não foi uma fatalidade, mas o reflexo de uma imagem no espelho da idiossincrasia. Quem declara que precisamos de mais uma dúzia de Salazares tem a razão que provém da circunstância de reconhecer o seu fundo de bestialidade e de cerrada estupidez. E quem acredita que certo Presidente da República é honesto, cercado pelos Amigos que teve e tem, não é apenas ingénuo: é um Sancho Pança que passou pelas forcas caudinas de uma calda imbecilóide, onde foi mergulhado, à maneira de Aquiles, não para que se tornasse imortal, mas para que se convertesse para sempre num pobre-diabo.

Eu já nada espero do grito espontâneo da lisura patriótica. Espero tudo da Fome e da Miséria. Que já chegaram.

5 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Nesta sua tão bem caracterizada Europa, onde mete, Professor, a esfinge eslava... tão próxima da nossa nebulosa e sofredora mentalidade? JCN

João de Castro Nunes disse...

É tal a nossa desgraça
que não há "tiranozinho"
que acompanhado ou sozinho
nos livre do que se passa!

JCN

João de Castro Nunes disse...

É talez chegada a altura
de o zé-povinho atirar
suas albardas ao ar
e pôr fim à desventura!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Quando arreganhar os dentes
a braços com a miséria,
a coisa então será séria,
havendo já precedentes!

A fome ninguém a cala,
sobretudo quando à frente
há quem viva a dar ao dente
em jantaradasde gala!

Se o país não se repensa
e procura outro caminho,
pode ser que o zé-povinho
acabe perdendo a crença
nesta forma de governo,
que lhe parece um inferno!

JCN

João de Castro Nunes disse...

O CANCRO

Um cancro está devoradoramente
a destruir o corpo da nação,
prevendo-se um final pouco atraente
caso não sutja quem lhe deite a mão!

Maligno deve ser pelos efeitos
por todos os seus órgãos espalhados,
podendo-se afirmar que estamos feitos,
mesmo não sendo nossos os pecados.

Há que extraí-lo pronto, de raiz,
no pressuposto de que não existe
uma outra solução para o país.

Não vai ser obra fácil, com certeza,
pois é de imaginar que ele resiste
disposto a não largar a sua presa!

JOÃO DE CASTRO NUNES