Este vosso Amigo tem o prazer de vos comunicar que, desde a presente data ao próximo dia 5 de Junho, se dará metodicamente a práticas de grande higiene mental. Isto significa que, excluído o tempo necessário ao desempenho de obrigações profissionais e sociais, irá ler bons livros, escutar muito boa música ligeira e música clássica de excelência, dispensar ao seu jardim os cuidados que as plantinhas exigem (elas não têm culpa nenhuma de vicejarem em período eleitoral) e só ouvir da caça aos votos os nacos necessários à emissão de vocalizações inerentes ao exercício do riso.
Os meus Familiares já estão instruídos no sentido de ligarem baixinho as telefonias - como antigamente se dizia - , bem como as duas televisões cá de casa, para que a minha homeostase não seja minimamente perturbada. Desenham-se contudo no horizonte ameaças a este projectado plano de beatitude individual: elas provêm da passagem à minha porta de umas quantas carripanas, munidas de altifalantes, que projectam sons estrídulos, a partir do aparelho fonador de uns desgraçados que só fizeram as Novas Oportunidades, repetindo incansavelmente que os concidadãos podem e devem votar nos malfeitores do costume. Chegado o fatal dia 5 de Junho, irei depositar na urna (refiro-me à eleitoral e não àquela que a "gajada" reserva para Portugal) um papelinho imaculadamente branco. Deixo, finalmente, um pedido aos meus queridos Amigos e Amigas. Se tiverem de entrar em contacto com este vosso admirador, tenham a bondade de aventar todos os temas da vossa e minha preferência - v.g., a filosofia dos séculos XIX e XX, a pintura de Jerónimo Bosch ou de Goya, a próxima época futebolística do SPORTING, o sabor das alheiras transmontanas, o surrealismo, as desgraças do Cavaleiro da Triste Figura (não me estou a referir ao Conejo, não), o fado castiço de Lisboa, a qualidade da próxima colheita vinícola dos tintos maduros, a sápida fascinação da vitela de Lafões, a influência da Geração de 70 na Cultura portuguesa, o significado polissémico do arroto após uma boa refeição, o fascínio do modo de contar de Fernão Mendes Pinto e muitas outras contumélias subjectivo-funcionais - mas NUNCA, NUNCA, EM MOMENTO ALGUM a mais passageira alusão às beijoquices do Portas, às diarreias verbais do Conejo, aos dislates justificativos do promotor do computador Magalhães, às tonitruâncias dos "manhãs a cantar" do Jerónimo-que-não-é-e-nunca-poderia-ter-sido-Bosch, assim como ao melífluo cantor, cheio de louçanias, da Esquerda-com-trufas.
Entendido? Conto convosco! Por favor, não me desiludam !
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