9 de maio de 2011

ARCIMBOLDO


Eu olhei e vi, Arcimboldo.

Eram raízes e frutos sazonados

E peixes aos cardumes, encantados

De sal e maresia a marulhar na areia.

Eu olhei e vi, Arcimboldo, como se não visse

As folhas e os livros e os goivos de campa

E o músculo tenso a subir esta rampa

E o verbo na boca a dizer o que disse.

Eu olhei e ao ver quis tentar entender

O que, ficando dito, ficava por dizer

Diálogos suspensos, aporias implumes

Sincréticas visões, ilusões, vagalumes

Da “natura naturans” ao que foi naturado

Tradução por fazer em livro bem fechado...

E o Livro, Arcimboldo? Esse Livro da Gnose

Início do Saber, final vital de osmose ?

Há escritas no céu que só alguns conhecem

Em confusas matinas que se desvanecem.

A Luz chegou, enfim, varando a noite.

Haja, pois, quem a queira e quem nela se afoite.

2 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Partilho a sua ideia, Professor,
quanto à visão de artistas geniais
como Arcimboldo, que nos faz supor
que tudo são prodígios naturais!

JCN

João de Castro Nunes disse...

A si própria a natureza
todos os dias se faz
da maneira que lhe apraz
em permanente surpresa!

JCN