Eu olhei e vi, Arcimboldo.
Eram raízes e frutos sazonados
E peixes aos cardumes, encantados
De sal e maresia a marulhar na areia.
Eu olhei e vi, Arcimboldo, como se não visse
As folhas e os livros e os goivos de campa
E o músculo tenso a subir esta rampa
E o verbo na boca a dizer o que disse.
Eu olhei e ao ver quis tentar entender
O que, ficando dito, ficava por dizer
Diálogos suspensos, aporias implumes
Sincréticas visões, ilusões, vagalumes
Da “natura naturans” ao que foi naturado
Tradução por fazer em livro bem fechado...
E o Livro, Arcimboldo? Esse Livro da Gnose
Início do Saber, final vital de osmose ?
Há escritas no céu que só alguns conhecem
Em confusas matinas que se desvanecem.
A Luz chegou, enfim, varando a noite.
Haja, pois, quem a queira e quem nela se afoite.
2 comentários:
Partilho a sua ideia, Professor,
quanto à visão de artistas geniais
como Arcimboldo, que nos faz supor
que tudo são prodígios naturais!
JCN
A si própria a natureza
todos os dias se faz
da maneira que lhe apraz
em permanente surpresa!
JCN
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