15 de junho de 2011

ALCOBAÇA SEM MONGES ... MAS COM FRANCESES

Nova visita a Alcobaça e ao velho mosteiro cisterciense. Um espaço carregado de história e de arte sacra, aquele. Património da Humanidade, informa um folheto para turista distraído. A circulação é tão livre como desprevenida. Uma velha, com ar de beata, pesadamente sentada à entrada, vigia meia dúzia de brochuras alusivas, que ninguém compra. Nas capelas laterais alinham-se santos e santas de madeira dos séculos XVI e XVII. Peças únicas, autênticas, à distância de menos de três metros. O que nos separa deles é uma fitinha vermelha, comicamente frágil. Tudo aquilo está ali à mercê de todas as intenções : as boas e as más. Dou comigo a pensar que a Igreja Católica já por mais de uma vez se queixou do roubo de insubstituíveis e valiosíssimas peças sacras. Que Povo é este ? Que Igreja portuguesa é esta ? Que gestão de património é feita neste jardim de espanto e de insânia? Aquelas imensas naves acolhiam gente "de desvairadas partes", como diria o vate. Entraram por ali dentro sem que lhes fosse exigido um cêntimo. Fotografaram o que melhor entenderam, como bem lhes aprouve. Dizem as Autoridades que não há verbas para recuperar os monumentos nacionais. Como não? Como assim? Então o "camóne" , o das Franças e das Araganças, o "brutus Germanicus" entra num monumento português, "património da Humanidade", sem pagar um cêntimo, às dezenas, às centenas, aos milhares, e depois vêm os tipos da Administração e da Tutela respectivas dizer-nos que "não há verbas para recuperar o património artístico português" ? Isto é deveras um País, uma Pátria ou é apenas um lupanar, uma loja de cuspos da sueca, uma nitreira a levedar? Como querem que eu não me indigne se vi com os meus olhos um casal de franceses - pertencente ao mesmo povo que nos invadiu por três vezes e que, numa dessas vezes, rebentou barbaramente os mimosos túmulos de Pedro e de Inês de Castro porque a soldadesca, ébria e napoleónica, imaginava que no seu interior poderiam jazer , mais do que os corpos dos amantes eternos, os ceptros ou as coroas de ouro e prata, cravejadas de pedras preciosas - se vi tal casalinho, talvez de Montmartre, talvez do Quartier Latin, talvez da baiúca de Madame Sans Souci, fitar o túmulo de Inês, com evidente cabotinismo, e comentar audivelmente : - "Pas pareil à Notre-Dame" ? Ainda que o dissessem depois de terem contribuído com meia dúzia de euros para a preservação do que nos pertence e nos emociona !!! Numa das naves laterais fui surpreendido com o convite, colectivo e mais uma vez gratuito - o que já é compreensível - para um concerto de metais, interpretado por um quinteto do Orfeão de Leiria. Os franceses tinham chegado primeiro. Lá os vi sentadinhos, numa das filas da frente. A distância não permitiu que lhes escutasse as apreciações. Mas o facto foi que saíram ao intervalo.

3 comentários:

João de Castro Nunes disse...

A barbárie, Professor,
não é pecado só nosso:
há gente que, sem supor,
se encontra abaixo do poço!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Se há coisa que em Portugal
não vale um chavo furado
é tudo quanto, afinal,
à cultura está ligado!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Tão pouco é levada a sério
em Portugal a cultura
que nesta legislatura
deixou de ter ministério!

JCN