22 de junho de 2011

POIESIS

Primeiro são palavras alinhadas

E de comportamento exemplar

Oh, quão forçado é fazê-las rimar

Quais batalhões de tropas perfiladas.

Depois, p´ra quem não sabe, a poesia

Nunca presta, se demais disciplinada.

Solta-se a vela e vamos à deriva

Dos cheiros, dos sabores, da maresia.

Agora sim, ficou enfim terra perdida

E água à vista. Um sangue todo novo

Em nova escrita. Um não sei quê

De infinita percepção do que se vê

Mas sobretudo do que vai só por si

Uma distância que se palmilha

Um amargor que se toma e se rilha

Sem a necessidade de sair daqui.

A seguir, ou antes, ou agora

O embrulhar sem tino da memória

Destino-vagalume em sintonia

Com um tempo qualquer, tão privativo,

Solto, ou (se quisermos) decepado

Daquilo que não foi por nós amado

Restando só aromas de amor vivo.

2 comentários:

João de Castro Nunes disse...

O poeta é semelhante a um joalheiro;
só que em lugar de trabalhar com gemas
opera com palavras e fonemas,
como com rosas lida o jardineiro!

JCN

João de Castro Nunes disse...

A par do seu saber valorizado
por uma opulentíssima cultura,
admiro, Professor, com muito agrado,
o seu pendor para a literatura!

JCN