O homem ri dos outros sem que por vezes se aperceba que está a motejar acerca de si mesmo. Mas desde a mais remota Antiguidade aos nossos dias, o riso foi uma das suas emoções mais recorrentes. Riram sem atrição os deuses de Homero, num olímpico desconchavo, quando Vulcano, o coxo, os serviu à mesa, manquejando irreparavelmente. Riram os mimi romanos, os goliardos medievais e os actores facetos da commedia dell’arte, nos inícios da Renascença, já numa altura em que sobre o riso se abatia a censura do “parece bem-parece mal”, obrigando-o a abandonar as ruas e a refugiar-se nas páginas dos livros e nos palcos dos teatros. Que riso é o de hoje? Cremos ser menos espontâneo do que o que vibrava na ágora de Atenas, no Forum de Roma ou nos canais de Veneza. Sobre o riso do nosso tempo passaram duas grandes guerras mundiais e a percepção, em surdina, de que o único humor possível, o único historicamente justificável, é o humor inconsequente do Dadaísmo ou o “humor negro” de Breton e do surrealismo. “E, no entanto, move-se”, diria um Galileu de agora, estudioso das regras e modas que o comandam. Move-se? Sejamos menos ousados. Limitemo-nos a dizer que existe.
3 comentários:
Nos dias de hoje perdeu-se
o gosto da gargalhada:
a sociedade meteu-se
em copas dissimulada!
JCN
Anda tudo macambúzio,
parece a semana santa:
não se escuta nem um búzio,
dada a triateza ser tanta!
JCN
Dá vontade de chorar
perante o estado geral
a que chegou Portugal
sem ter por onde escapar!
JCN
Enviar um comentário