Reclinada num trono de cetim
A Deusa é um fuste da gávea intemporal.
E no entanto , lá em baixo ruge a fera do mal.
Rolam fogos de lava, vomitando carmim
As entranhas da terra. Isso que importa?
A Deusa ripa uvas
Esquecida das chuvas,
Ela, que nunca se sentiu como morta.
Lá longe, no denso crepitar de gente aflita
Há quem sofra terrores de medo e maldição
Mas não assim a Deusa, a Deusa não.
E é então que penso para mim
Que tal Deidade
Ignota e recolhida num casulo malsão
Reclinada assim
Num latrinário trono de cetim
É só a edição duma maldade;
É igual ao nada que se soma
À caminhada penosa dos que vão
Morrendo aos poucos, como quem toma
Veneno e perdição
Perto, tão perto já do fim
Longe, tão longe
De tronos de carmim
E de cetim.
2 comentários:
Nem tudo quanto rima é Poesia:
pressupõe esta, caro Professor,
um nítido pendor de alegoria
que ao ser humano dê todo o valor!
JCN
HUMANOIDISMO
Deixemo-nos dos deuses que, de facto,
não fazem parte já da nossa mente:
a página virou; presentemente
com eles se perdeu todo o contacto!
A treta agora é outra: sob o solo
procuram-se partículas, neutrinps,
mais rápidas que a luz, de polo a polo,
cabendo-lhes traçar nossos destinos.
Deixemo-nos, portanto, dessa tralha
que apenas interessa aos humanóides
que pronta têm já... sua mortalha.
Sejamos actuais, pós-modernistas,
e contra o esquadrão dos antropóides
sejamos verdadeiros... humanistas!
JOÃO DE CASTRO NUNES
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