19 de novembro de 2011

TRONO DE CETIM


Reclinada num trono de cetim

A Deusa é um fuste da gávea intemporal.

E no entanto , lá em baixo ruge a fera do mal.

Rolam fogos de lava, vomitando carmim

As entranhas da terra. Isso que importa?

A Deusa ripa uvas

Esquecida das chuvas,

Ela, que nunca se sentiu como morta.

Lá longe, no denso crepitar de gente aflita

Há quem sofra terrores de medo e maldição

Mas não assim a Deusa, a Deusa não.

E é então que penso para mim

Que tal Deidade

Ignota e recolhida num casulo malsão

Reclinada assim

Num latrinário trono de cetim

É só a edição duma maldade;

É igual ao nada que se soma

À caminhada penosa dos que vão

Morrendo aos poucos, como quem toma

Veneno e perdição

Perto, tão perto já do fim

Longe, tão longe

De tronos de carmim

E de cetim.

2 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Nem tudo quanto rima é Poesia:
pressupõe esta, caro Professor,
um nítido pendor de alegoria
que ao ser humano dê todo o valor!

JCN

João de Castro Nunes disse...

HUMANOIDISMO

Deixemo-nos dos deuses que, de facto,
não fazem parte já da nossa mente:
a página virou; presentemente
com eles se perdeu todo o contacto!

A treta agora é outra: sob o solo
procuram-se partículas, neutrinps,
mais rápidas que a luz, de polo a polo,
cabendo-lhes traçar nossos destinos.

Deixemo-nos, portanto, dessa tralha
que apenas interessa aos humanóides
que pronta têm já... sua mortalha.

Sejamos actuais, pós-modernistas,
e contra o esquadrão dos antropóides
sejamos verdadeiros... humanistas!

JOÃO DE CASTRO NUNES