22 de janeiro de 2012

AS COISAS E O SEU REFLEXO



Um pássaro repousa no ramo duma árvore
Nua
Junto dum lago tranquilo a ladear
A rua.
E quando a luz
Da lua
Reflecte a árvore no lago
Por noites de macios
Cios
De delicado afago,
O pássaro, se ainda lá estiver,
Por muito que não queira ou que não deixe,
Transforma-se num peixe.
E então
Aquela árvore
Tão nua
Que assim ficava absorta
Junta daquela rua
Converte-se em retorta
De coisa bem viva, jamais morta;
Operando equivalências
De formas singulares
Em súbitas latências,
Inventados lugares.
E a noite chega, tranquila e mansa
Como se fora trança
De menina
Muito loira e pequenina
E vem dizer
Que não há nenhum nexo
Entre o que está
E o seu reflexo.

1 comentário:

João de Castro Nunes disse...

Peixes com aves, caro Professor,
é coisa que não liga em parte alguma,
mesmoque vistos através da bruma
que tudo nos faz ver da mesma cor!

JCN