3 de janeiro de 2012

DE MIM, QUE SOU ROMÃ



O que gostava era de adoptar
O ponto de vista da romã:
Nascer num pomar
Perto de ti e também do mar
E construir em mim a esperança vã
De ser fruto apenas semi-vegetativo.
Ouvir ao longe a vaga
E ficar preso a certo ramo atento
Com pássaros empoleirados
Que dormem ao relento
Mas junto de cestos pendurados
Que são carinhos, que são ninhos,
Pedindo em cada manhã
Que o sol lhes traga
Essa vermelha, guardada baga,
De mim, que sou romã.
Depois, por calores vagarosos,
Ou por dardejantes raios de manhã,
Abrir um interior bem colorido
E oferecer a filhotes já criados
Na ponta dos seus bicos regalados
Segredos da Natureza com sentido.

2 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Não faz grande sentido a sua ideia
de ser romã de bagos encarnados
a fim de alimentar os passarinhos
que todas as manhãs deixando os ninhos
desesperadamente esfomeados
horas depois da vespertina ceia
lhe vêm comer à mão, de bico aberto,
o rubro fruto aliciante e certo:

é que isso, Professor, já vem fazendo
com seus alunos na Universidade
a todos largamente oferecendo
os prestimosos, suculentos bagos,
nunca por certo vez alguma pagos,
do seu saber de extrema qualidade!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Já reparou, Professor,
que Coimbra de manhã
tem um fortíssimo odor
à granadina romã?...

JCN