8 de janeiro de 2012

EM NOME DO FUTURO

Que rumor é este? Que subtil fluido se desprende da vida dos homens concretos, das dificuldades de sermos humanos e livres, do indómito desejo de nos considerarmos parte activa da Pátria, irmãos-gémeos da Democracia, ombro a ombro com Cidadãos iguais-a-nós, no raso plano deste viver contingente, a caminho do fim? Que desafio é este? Cai-nos em cima a matéria fecal do crapuloso latrocínio do Capital, das agências de “rating” (que ninguém sabe de que enxerga podre surdiram), do conluio entre meia-dúzia de ventrudos banqueiros e de outra meia-dúzia de pestíferos e ignaros políticos, e nós, aturdidos com tamanho e pulhostre conluio, declaramos, como Dolores Ibarruri, no auge da guerra civil espanhola : “No passarán!”. Que estranho caminho é este? De um lado as agigantadas pretensões dos que pensam que o viver é um exercício de cálculo, uma empalmação de ilusionismo com que se enganam multidões de ingénuos, sempre prontos ao sacrifício do Bezerro de Ouro. Do outro lado, as inumeráveis multidões dos que nada esperam senão a tranquila sentença de quem dirá : “Trabalhaste, toma o fruto do teu suor e vai em paz!” . Afinal, que estranho caminho é este? Ah, minha “Passionaria defunta”, pudesses tu saber que não morreste quando morreste, que a tua gloriosa rebelião ficou por cá, dormiu connosco, gerou filhos bem nascidos, desbravou gloriosas veredas de amanhã e descobriu sóis radiantes para além do sol que nos ilumina. Sim , Dolores, “no passarán!” . Vencem agora ? Talvez. Aos ombros dos ladinos, mas também dos desprevenidos, às espaldas dos inocentes, mas também dos pobres de espírito, no dorso dos desprevenidos, mas também dos vendidos. Dolores, minha Dolores, “no passarán!”. Sabes porquê, Irmã da minha carne, sacerdotisa da minha Crença, Senhora do meu Coração ? Porque, no auge da guerra civil espanhola, um Homem houve, chamado Hemingway, que descreveu a cópula entre um guerrilheiro e uma Mulher militante e a contou como um terramoto, como uma telúrica experiência de sangue , esperma e vida, como uma Esperança de Futuro, como uma litania de Amanhã, como uma “finalidade sem fim”, à maneira de Kant. Descansa, Dolores, “no passarán!”. E se passarem, Amante, Esposa e Filha, saibas tu que o teu Verbo, como religião intemporal, nos galvanizará numa prece sem distância, renovada em cada Primavera, e que de ti fluirão as torrentes de Dádiva e de Futuro que será o pesadelo de todo o despotismo, a decepção de todo o arbítrio, a execração de toda a lábil conformação. Dolores, estamos aqui, na luta. Como teus Irmãos! Para sempre. Em nome do Futuro!

1 comentário:

João de Castro Nunes disse...

"NO PASARÁN!"

O futuro de um povo, Professor,
está nos seus heróis, que na hora incerta
de peito ousado e fronte descoberta
às balas se oferecem... sem temor!

Onde ele não se encontra, de certeza,
é na corja política e corrupta
que por sistema vira a cara à luta
oculta pela lama da torpeza.

Que futuro teremos como povo
se nos deixarmos abater calcados
por sinistros abutres esfaimados?!

Visionando um horizonte novo
de sã democracia igualitária,
tenha eco em nós a voz da Passionária!

JOÃO DE CASTRO NUNES