16 de março de 2012
DIÓGENES OU O SER DOS QUE NÃO QUEREM TER
A cisão entre SER e TER não é coisa de agora. Mas há diferenças entre o ontem e o hoje. Ontem, na Grécia clássica, por exemplo, ainda havia espaço teórico para que tal cisão fosse sublinhada na Ágora. O SER era o espaço da Verdade, sendo o TER o pragmatismo da dominação. Por isso é que, na perspectiva do SER, Diógenes, o Cínico, ganhava a parada a Platão, o Instalado. Aquele era capaz de se masturbar publicamente, declarando. “Bom era que a fome se pudesse satisfazer com a mesma facilidade com que autopacificamos a líbido”. Platão detestava Diógenes porque via nele – e com justiça – a personificação do dedo acusador apontado ao senhorio dos senhoritos da altura (dos senhoritos, tanto no plano da hegemonia das doutrinas impostas, como no plano crematístico). Tudo isto era possível porque a Grécia sempre foi, desde os tempos de Homero, um cadinho de depuração ética. Foi isto, ou seja, esta capacidade de valorar, que a Europa deixou que se perdesse. Hoje a Europa pode dizer apenas que outrora reverdeceram nela as frágeis flores do Humanismo. A Europa rendeu-se à lógica da globalização económica. E nesta, o SER é o reflexo mecânico do TER. Por isso, nela superabundam Barrosos e escasseiam Diógenes. O drama de agora é que os putativos Diógenes estão, como Sócrates (o Grego …) todos condenados à cicuta. Pelo sim, pelo não, eu – ia a escrever “que me gosto de masturbar”, mas isso poderia ser interpretado no plano literal – já tenho o bacamarte do meu avô atrás da porta. Para o que der e vier … Viva Diógenes, abaixo Platão.
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1 comentário:
Admiro, Professor, na sua prosa,
cadenciada em jeito de poema,
uma autenticidade... calorosa,
seja qual for o respectivo tema!
Contra a poeirenta forma de expressão
dos humanóides da actualidade,
suas mensagens dão-me a sensação
de estar vivendo na modernidade.
Há nelas finos laivos de ironia
que são a prova mais sofisticada
da sua magistral... sabedoria.
Sabem-me a pouco os seus escritos, creia,
e curiosamente dão-me a ideia
da clara helenidade... remoçada!
JCN
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