8 de fevereiro de 2013

AVENTURAS E DESVENTURAS DO COMENTARISMO LUSITANO

(A imagem apresenta um "portuga", depois de ouvir os comentaristas cá do burgo) O Senhor Doutor Rebelho de Souza bota figura e discursata aos fins de semana. Aproveita também para ser comentador de livros, que apresenta às toneladas, como se os tivesse lido todos. O Doutor Rebelho é inquestionavelmente uma figura nacional e merece-o. Para tanto, já mergulhou intrepidamente nas águas do Tejo, ali no “mar da palha”, para que tal constasse do currículo. Refiro-me ao mar e não à palha. Durante muitos anos, este nadador, da estirpe de um Batista Pereira – que , coitado dele, não apresentava livros à tonelada – deteve o monopólio do comentarismo português. Perguntar-me-ão o que é o comentarismo português. É um jogo, ao que suponho bem remunerado, onde um “chico-esperto” decide passar um atestado de imbecilidade ao resto da população. E como o Doutor Rebelho é bem falante, usa fato completo e tem resposta para tudo – desde a alta política à baixa intriga e desde o futebol ao futesal – esta restante população fica convencida que o homem é mais sábio do que a antiga biblioteca de Alexandria, o que não admira, dada a profusão da livralhada que o Cérebro digere de véspera. Acontece que o comentarismo português foi recentemente adornado com outro cromo. Refiro-me a um tal Mendes de Marques, pequenino e não dançarino. Mas aqui, dá-se um caso singular, que muito deverá irritar o Doutor Rebelho. É que o seu competidor, Mendes de Marques de seu nome, mais pequenino do que um grão de arroz, possui sempre a informação privilegiada sobre o que o governo fez, está a fazer e irá fazer. Se eu estivesse na pele do Doutor Rebelho, o Doutor Mendes de Marques não escaparia a uma sova valente, coisa que não deveria ser difícil de obrar. É bom que se diga que isto de ter informação privilegiada não é crime nenhum. Um tal Senhor Silva também a teve e até ganhou com isso uns tantos carcanhóis. Tal façanha deu-lhe o direito de vir para a televisão dizer que teria de nascer duas vezes qualquer fulano que se apresentasse como mais honesto do que ele. Como eu só nasci uma vez, não estou à altura de contrariar a asserção. Mas voltemos aos nossos heróis. O Doutor Rebelho fala, fala, fala, mas como não tem informação privilegiada acaba por ser sistematicamente impreciso, improfícuo e verboso, além de desonesto, mas isto só pelo facto de , ao que se imagina, só ter nascido uma vez. O Doutor Mendes de Marques, detentor de todos os segredos e conchavos do Executivo, consegue alcançar “rankings” apreciáveis de rigor, exactidão e pertinência. Claro que isto se deve à circunstância de ter – com toda a certeza – nascido duas vezes. Pudera! Se só tivesse nascido uma, não chegava a ser um comentarista. Era um quarto de comentarista, em forma putativa. E é assim que vai o exercício do comentarismo cá pelo burgo. Agora vou jantar, que estou cheio de fome. Vou comer um bom arroz de polvo. Espero que não tenha sido pescado – o polvo, bem entendido – no “mar da palha”. Caso contrário, arrisco-me a comer quem eu não quero, em forma de grão de arroz.

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