Acaba de aparecer, sob a chancela da Imprensa Nacional, o livro Antero de Quental. A construção de uma biografia, erigido sobre as cartas escritas por José Bruno Carreiro às individualidades que lhe forneceram elementos para a redacção do seu modelar trabalho biográfico sobre o infeliz poeta açoriano. A responsabilidade da compilação em causa pertence a Ana Maria Almeida Martins, talvez a maior autoridade nacional e internacional na temática anteriana. Foi ela que prefaciou, anotou e transcreveu as cartas escritas por Bruno Carreiro a diversas individualidades, na recolha dos materiais com que edificou a sua magnífica obra, ainda hoje referencial e não superada por qualquer outra de similar intenção. Houve já quem tivesse dito que uma bela vida é um sonho de juventude realizado na idade madura. Ora, um dos sonhos de José Bruno Carreiro foi o de restituir Antero ao próprio Antero, fixando, se possível em termos definitivos, as particularidades, os meandros e os desvãos da sua biografia. Tratava-se, numa palavra, de desfazer lendas, colmatar lacunas, corrigir erros, superar lapsos e restabelecer cronologias de criação. Tratava-se numa palavra, de limpar do sólio da estátua de Antero de Quental os limos e os musgos enganosos que lhe obscureciam o rosto e lhe descompunham a figura. Não tendo o Poeta datado a maior parte das suas cartas, haveria que as ler como um catecismo, palavra a palavra, linha a linha, que as comparar entre si, lhes sondar as alusões e as explícitas referências, lhes descortinar as circunstâncias e motivações. E tudo isto para que, finalmente, o biógrafo viesse à praça pública anunciar a boa nova de um irrefutável calendário anteriano. E havia igualmente que fazer alinhar com todo o rigor as novas cartas encontradas, irmanando-as com as antigas, descortinando-lhes os nexos e estabelecendo também para elas a lógica da seriação. Outro tanto se deveria fazer quanto aos Sonetos e quanto às composições poéticas dos Raios de Extinta Luz, estas últimas maltratadas pelas mãos profanas e pelo rancor cego de Teófilo Braga. A impossível alucinação de Carreiro teria sido, se tal fora humanamente realizável, seguir a trajectória existencial de Antero em cada momento do somatório de momentos da sua atormentada vida, quer no que tangia à sua materialidade corpórea, quer no que se reportava à fertilidade abstracta da sua ideação. O exigente apelo deste sonho revelara-se em Outubro de 1930, servindo-lhe de intróito os artigos publicados desde 1921 no "Correio dos Açores" . Este foi o jornal, por ele fundado, no qual estampou religiosamente, em cada 18 de Abril e 11 de Setembro, dias evocativos do nascimento e da morte de Antero, os artigos preparatórios da sua magna empresa. Falo intencionalmente de religiosidade. E não o digo apenas por Bruno Carreiro ter visto nos amigos e colaboradores que o ajudaram os catecúmenos da crença que o abrasava, encarecendo-lhes os actos “de culto anteriano”, como na carta de 16 de Julho de 1934 a Luís de Magalhães, ou com eles festejando o “sentimento de irmandade que liga quantos enfileiram in ecclesia anterianae” (Carta a João de Barros de 16 de Maio de 1942). Esta afinidade eclesial, esta confraria cultual encontra-se também presente na designação directamente colhida no título do artigo com que Eça de Queiroz colaborou no In Memoriam a Antero. Para mim, é este o texto fundador dos mitos religiosos que doravante passaram a reger os admiradores de Antero (e eu sou um desses admiradores, embora, por natureza e compleição mental, muito refractário a esta sorte de cheiros de incenso…). Todos sabemos que o artigo se intitulava Um Génio que era um Santo e que tal texto atinge momentos de superlativa perfeição e de insuperável excelência estética, como na evocação de um Antero, pontífice na arte poética, a declamar, nos degraus da Sé Nova iluminada pelo luar de uma noite macia de Abril ou Maio, os versos com que dominava uma turba de académicos irreverentes. A santidade de Antero ficou desde então exarada e decretada para a posteridade. Bruno Carreiro foi um dos sacerdotes deste culto, referindo-se por mais do que uma vez, na sua correspondência, ao “Santo Antero” do seu devocionário. Dizem os crentes que a Fé move montanhas. No caso de José Bruno Carreiro, moveu mesmo. Não se tratou de um milagre de cinestesia física, susceptível de fazer o câmbio do cume da Ilha do Pico pelo cimo da Serra da Estrela. Mas tratou-se, isso sim, de um prodígio de obstinação, de uma magia de indómita vontade, de um fenómeno maravilhoso de dádiva total, absorvente, apaixonada, permanente, à obra que iria fazer-se a uma distância de 700 milhas do lugar onde se encontravam as fontes, os préstimos e os prelos que a poderiam propiciar. O culto anteriano iria fanatizar José Bruno Carreiro. E eu, pela primeira vez na vida, direi sem a menor hesitação : - Bendito fanatismo este! Vemos, em S. Miguel e na Terceira, um homem completamente avassalado ao seu Ideal e ao seu Culto, tão possuído e fascinado pela promessa de uma ideia como Santa Teresa de Ávila o foi pela visão do Sagrado.
Não se tratou, como é óbvio, de um trabalho solitário. Bruno Carreiro teve a sorte e o talento de encontrar e de garantir o concurso de valiosíssimos colaboradores e apoiantes. Neste grupo contam-se os nomes de Luís de Magalhães, João de Barros, Vitorino Nemésio e, acima de quaisquer outros, o de Cândido Nazaré. Este último, funcionário da Imprensa da Universidade de Coimbra, serviço cultural que o autoritarismo salazarista haveria de encerrar, partilhava com Bruno Carreiro o fervor por Antero de Quental e era um bibliófilo criterioso. As cartas agora publicadas dão-nos bem a noção da amplitude e da qualidade dos serviços prestados por Cândido Nazaré ao biógrafo de Antero. A história da colaboração entre ambos instala-nos na consoladora certeza de poder ser a Cultura um sulco de partilha solidária e fraterna entre pessoas politicamente distantes, quando não mesmo antinómicas. É certo que ambos haviam nascido em Coimbra. Mas essa comunidade de berço nativo não apagava a contradição das opções ideológicas. José Bruno Carreiro possuía arreigadas convicções monárquicas, reveladas muito explicitamente, no que respeita ao livro organizado por Ana Maria Martins, numa das cartas dirigidas a Luís de Magalhães. Cândido Nazaré pagou ao salazarismo o duro preço da sua coerência republicana e democrática, tendo sido perseguido, julgado, condenado e finalmente privado pelo Poder hegemónico do seu posto de trabalho na função pública. Foi com sincera solidariedade que Bruno Carreiro se prestou a contactar gente do foro em benefício do seu amigo, acalentando a esperança, que viria a revelar-se ilusória, de que ele poderia vir a ser julgado em Angra do Heroísmo. E damo-nos conta da consternação que lhe provocou a notícia da sentença condenatória com que Cândido Nazaré se viu punido e da correspondente perda do seu emprego.
Nas suas linhas fundamentais, a obra apresentava já o cariz de coisa acabada por volta de 1934. Tenhamos bem presente que é um eufemismo falar em coisa acabada para um espírito tão inconformado e ávido como o de José Bruno Carreiro. É de presumir que se ele ainda pertencesse ao mundo dos vivos e se a luz do discernimento lhe não faltasse, estaria porventura a imprimir ou a tentar publicar uma nova edição do seu Antero de Quental com mais uma mão cheia de novidades. O autor do livro não hesitou quanto à seriedade e ao mérito intrínseco do seu labor. Encarou o “cartapácio” – assim gostava de designar a obra - como “um grande armazém de materiais” (Carta a Vitorino Nemésio, de 5 de Dezembro de 1948), sim, mas de materiais certos, seguros, fiáveis, resistentes a todos os contraditórios da heurística e da hermenêutica. No entanto, uma incerteza o apoquentou. Saiu-lhe ao caminho a eterna dúvida que sempre assola todos os autores conscientes: a dúvida inerente ao olhar dos outros. Como iria ser julgado o seu trabalho? Uma coisa era o solilóquio apaziguante, o murmúrio sereno de si para consigo, que lhe dava a garantia da sua rígida exigência de verdade. Outra, muito diferente, era a ventura ou desventura de uma obra lançada, como filha dilecta , aos combates incertos do vasto mundo literário. Os hipotéticos juízos dos demais, essa alteridade sentida como eventualmente hostil, instilou no seu espírito, habitualmente tão positivo e seguro, o veneno entorpecente da dúvida. Por isso o encontramos, em Outubro de 1936, a desabafar assim para o inevitável Cândido Nazaré : “Saiu aquilo por fim. Uma coisa com interesse? Um pastelão monstruoso? Tudo pode ser”. Bruno Carreiro iria desatar o nó górdio desta dúvida. Fê-lo, contudo, com o pragmatismo realista e com a modéstia que, segundo o nosso ponto de vista, sempre avultaram como traços salientes da personalidade deste incansável trabalhador. Aos seus próprios olhos, o trabalho encetado cumpria as exigências que a si mesmo havia imposto, configurando uma “obra completa, séria e sólida”, em conformidade com o programa definido numa sua carta a Luís de Magalhães, datada de 19 de Dezembro de 1930. Porém, se o seu labor colmatava omissões, corrigia imprecisões e conferia exactidão a muitos dos aspectos biográficos da vida de Antero de Quental, ninguém poderia legitimamente encará-lo como uma reconstrução do evoluir espiritual e da aventura mental do seu biografado. José Bruno Carreiro teve a exacta percepção dos limites da sua obra. Quando Forjaz de Sampaio publicou a sua História da Literatura Ilustrada dos Séculos XIX e XX, que ficou incompleta, pediu a José Bruno que redigisse o capítulo referente a Antero. Este anuiu, mas logo esclareceu que só poderia fornecer a bibliografia e uma biografia, por lhe faltar, segundo as suas palavras, “competência para o estudo do pensamento do homem”. Na conversação entre Forjaz de Sampaio e Bruno Carreiro aventara-se a possibilidade da “parte crítica” poder ser entregue a Joaquim de Carvalho ou a António Sérgio. Mas o que viria a ser estampado seria apenas o contributo de José Bruno. Narrando o episódio a Vitorino Nemésio, numa carta de Novembro de 1940, a sua indignação, temperada por um sentimento muito autêntico de modéstia, expressou-se assim : “Qual não foi, porém, o meu assombro, ao ver que o Forjaz de Sampaio considerou completo, apenas com isso, o capítulo “Antero” e que nem uma palavra nele havia sobre a obra ! Não pode haver vergonha maior, numa História da Literatura, num capítulo sobre Antero, em que o que mais interessa e maior importância tem é precisamente a obra. Quem ler aquele capítulo, há-de imaginar que eu tomei o encargo de escrevê-lo e que o julguei completo com as notas biográficas que lá pus! Seria de burro!”.
Terminado o trabalho, cumprido desde sempre com beneditina aplicação, seguiu-se a procura de editor. Seria uma demanda problemática, atendendo ao considerável financiamento requerido pelas dimensões do minucioso trabalho. Decorreu mais de uma dezena de anos para que a obra Antero de Quental. Subsídios para a sua biografia fosse dado ao prelo. Falharam, umas atrás das outras, as hipóteses de publicação sob a tutela, nomeadamente, da Imprensa da Universidade de Coimbra, da Biblioteca da Universidade de Coimbra, da Editora Portucalense, de Barcelos, da Casa Bertrand ou da Editorial Inquérito. Só em 1948 a Sociedade Astória, Ldª o imprimiu, sob a responsabilidade editorial do Instituto Cultural de Ponta Delgada. Santo Antero demorou bastante, como se vê, a propiciar este pequeno milagre gráfico. Também não foram generosos na sua estridência os clangores da imprensa para saudarem o grande milagre de se ter criado tamanho monumento bibliográfico e biográfico num mimoso arquipélago de formação vulcânica e de tessitura sonhadora, embalado pelos cheiros da maresia atlântica e pelas almas pertinazes dos seus habitantes. José Bruno Carreiro, conforme o assinala Ana Maria Martins numa das suas esclarecedoras notas, ficou contente com as loas de uma notícia anónima, “de pouco mais de dez linhas”, surgida no Diário de Notícias, em Dezembro de 1948. As grandes devoções contentam-se com pouco e os servidores da Cultura já há muito se habituaram à subalternidade que lhes reservam os órgãos da imprensa diária. Fica a obra. Isso lhes basta.
Não se tratou, como é óbvio, de um trabalho solitário. Bruno Carreiro teve a sorte e o talento de encontrar e de garantir o concurso de valiosíssimos colaboradores e apoiantes. Neste grupo contam-se os nomes de Luís de Magalhães, João de Barros, Vitorino Nemésio e, acima de quaisquer outros, o de Cândido Nazaré. Este último, funcionário da Imprensa da Universidade de Coimbra, serviço cultural que o autoritarismo salazarista haveria de encerrar, partilhava com Bruno Carreiro o fervor por Antero de Quental e era um bibliófilo criterioso. As cartas agora publicadas dão-nos bem a noção da amplitude e da qualidade dos serviços prestados por Cândido Nazaré ao biógrafo de Antero. A história da colaboração entre ambos instala-nos na consoladora certeza de poder ser a Cultura um sulco de partilha solidária e fraterna entre pessoas politicamente distantes, quando não mesmo antinómicas. É certo que ambos haviam nascido em Coimbra. Mas essa comunidade de berço nativo não apagava a contradição das opções ideológicas. José Bruno Carreiro possuía arreigadas convicções monárquicas, reveladas muito explicitamente, no que respeita ao livro organizado por Ana Maria Martins, numa das cartas dirigidas a Luís de Magalhães. Cândido Nazaré pagou ao salazarismo o duro preço da sua coerência republicana e democrática, tendo sido perseguido, julgado, condenado e finalmente privado pelo Poder hegemónico do seu posto de trabalho na função pública. Foi com sincera solidariedade que Bruno Carreiro se prestou a contactar gente do foro em benefício do seu amigo, acalentando a esperança, que viria a revelar-se ilusória, de que ele poderia vir a ser julgado em Angra do Heroísmo. E damo-nos conta da consternação que lhe provocou a notícia da sentença condenatória com que Cândido Nazaré se viu punido e da correspondente perda do seu emprego.
Nas suas linhas fundamentais, a obra apresentava já o cariz de coisa acabada por volta de 1934. Tenhamos bem presente que é um eufemismo falar em coisa acabada para um espírito tão inconformado e ávido como o de José Bruno Carreiro. É de presumir que se ele ainda pertencesse ao mundo dos vivos e se a luz do discernimento lhe não faltasse, estaria porventura a imprimir ou a tentar publicar uma nova edição do seu Antero de Quental com mais uma mão cheia de novidades. O autor do livro não hesitou quanto à seriedade e ao mérito intrínseco do seu labor. Encarou o “cartapácio” – assim gostava de designar a obra - como “um grande armazém de materiais” (Carta a Vitorino Nemésio, de 5 de Dezembro de 1948), sim, mas de materiais certos, seguros, fiáveis, resistentes a todos os contraditórios da heurística e da hermenêutica. No entanto, uma incerteza o apoquentou. Saiu-lhe ao caminho a eterna dúvida que sempre assola todos os autores conscientes: a dúvida inerente ao olhar dos outros. Como iria ser julgado o seu trabalho? Uma coisa era o solilóquio apaziguante, o murmúrio sereno de si para consigo, que lhe dava a garantia da sua rígida exigência de verdade. Outra, muito diferente, era a ventura ou desventura de uma obra lançada, como filha dilecta , aos combates incertos do vasto mundo literário. Os hipotéticos juízos dos demais, essa alteridade sentida como eventualmente hostil, instilou no seu espírito, habitualmente tão positivo e seguro, o veneno entorpecente da dúvida. Por isso o encontramos, em Outubro de 1936, a desabafar assim para o inevitável Cândido Nazaré : “Saiu aquilo por fim. Uma coisa com interesse? Um pastelão monstruoso? Tudo pode ser”. Bruno Carreiro iria desatar o nó górdio desta dúvida. Fê-lo, contudo, com o pragmatismo realista e com a modéstia que, segundo o nosso ponto de vista, sempre avultaram como traços salientes da personalidade deste incansável trabalhador. Aos seus próprios olhos, o trabalho encetado cumpria as exigências que a si mesmo havia imposto, configurando uma “obra completa, séria e sólida”, em conformidade com o programa definido numa sua carta a Luís de Magalhães, datada de 19 de Dezembro de 1930. Porém, se o seu labor colmatava omissões, corrigia imprecisões e conferia exactidão a muitos dos aspectos biográficos da vida de Antero de Quental, ninguém poderia legitimamente encará-lo como uma reconstrução do evoluir espiritual e da aventura mental do seu biografado. José Bruno Carreiro teve a exacta percepção dos limites da sua obra. Quando Forjaz de Sampaio publicou a sua História da Literatura Ilustrada dos Séculos XIX e XX, que ficou incompleta, pediu a José Bruno que redigisse o capítulo referente a Antero. Este anuiu, mas logo esclareceu que só poderia fornecer a bibliografia e uma biografia, por lhe faltar, segundo as suas palavras, “competência para o estudo do pensamento do homem”. Na conversação entre Forjaz de Sampaio e Bruno Carreiro aventara-se a possibilidade da “parte crítica” poder ser entregue a Joaquim de Carvalho ou a António Sérgio. Mas o que viria a ser estampado seria apenas o contributo de José Bruno. Narrando o episódio a Vitorino Nemésio, numa carta de Novembro de 1940, a sua indignação, temperada por um sentimento muito autêntico de modéstia, expressou-se assim : “Qual não foi, porém, o meu assombro, ao ver que o Forjaz de Sampaio considerou completo, apenas com isso, o capítulo “Antero” e que nem uma palavra nele havia sobre a obra ! Não pode haver vergonha maior, numa História da Literatura, num capítulo sobre Antero, em que o que mais interessa e maior importância tem é precisamente a obra. Quem ler aquele capítulo, há-de imaginar que eu tomei o encargo de escrevê-lo e que o julguei completo com as notas biográficas que lá pus! Seria de burro!”.
Terminado o trabalho, cumprido desde sempre com beneditina aplicação, seguiu-se a procura de editor. Seria uma demanda problemática, atendendo ao considerável financiamento requerido pelas dimensões do minucioso trabalho. Decorreu mais de uma dezena de anos para que a obra Antero de Quental. Subsídios para a sua biografia fosse dado ao prelo. Falharam, umas atrás das outras, as hipóteses de publicação sob a tutela, nomeadamente, da Imprensa da Universidade de Coimbra, da Biblioteca da Universidade de Coimbra, da Editora Portucalense, de Barcelos, da Casa Bertrand ou da Editorial Inquérito. Só em 1948 a Sociedade Astória, Ldª o imprimiu, sob a responsabilidade editorial do Instituto Cultural de Ponta Delgada. Santo Antero demorou bastante, como se vê, a propiciar este pequeno milagre gráfico. Também não foram generosos na sua estridência os clangores da imprensa para saudarem o grande milagre de se ter criado tamanho monumento bibliográfico e biográfico num mimoso arquipélago de formação vulcânica e de tessitura sonhadora, embalado pelos cheiros da maresia atlântica e pelas almas pertinazes dos seus habitantes. José Bruno Carreiro, conforme o assinala Ana Maria Martins numa das suas esclarecedoras notas, ficou contente com as loas de uma notícia anónima, “de pouco mais de dez linhas”, surgida no Diário de Notícias, em Dezembro de 1948. As grandes devoções contentam-se com pouco e os servidores da Cultura já há muito se habituaram à subalternidade que lhes reservam os órgãos da imprensa diária. Fica a obra. Isso lhes basta.
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