Em Abril, por uma vez,
Um dia se fez verdade
E jorrou de quem o fez
A palavra Liberdade.
Foi num Abril já distante
Que do cravo nasceu vida
Na espingarda florida
De soldado militante.
Foi um Abril muito breve ...
A brisa da madrugada
De tão solta, de tão leve
Ficou à porta de entrada.
Mas na alma cintilou
O fulgor desta saudade.
Foi um cuco que cantou
Justiça, pão e verdade ?
Um dia se fez verdade
E jorrou de quem o fez
A palavra Liberdade.
Foi num Abril já distante
Que do cravo nasceu vida
Na espingarda florida
De soldado militante.
Foi um Abril muito breve ...
A brisa da madrugada
De tão solta, de tão leve
Ficou à porta de entrada.
Mas na alma cintilou
O fulgor desta saudade.
Foi um cuco que cantou
Justiça, pão e verdade ?
3 comentários:
Não consigo ficar insensível perante este hino a Abril.
Foi fugaz o sonho de Abril, o sonho de Liberdade, a que os militares deram asas na madrugada de 25, há 33 anos (já passaram tantos?!). Sabíamos o que não queríamos, mas, na verdade, não sabíamos o que desejávamos para Portugal. Não éramos, não estávamos, politizados. Para nós a censura, todas as formas de censura, a prisão pelo delito de pensar e expressar o pensamento, a guerra que arrastávamos já penosamente contra um adversário a quem bastaria um maior apoio externo para nos levar de vencida, eram motivos mais do que suficientes para fazermos o que fizemos. Depois, depois, muito lampeiros e sabedores, chegaram os políticos, todos os políticos, que nos disseram que era isto e aquilo o que nós, detentores das armas e da força, deveríamos querer. E nós separámo-nos. Passámos a querer coisas para o Povo, em nome do Povo. Só que Povo era um todo fluido que umas vezes se identificava com os operários e os camponeses do Sul, outras com os pequenos proprietários católicos e conservadores do Norte e, outras ainda, com os habitantes das grandes cidades habituados a quase todas as mordomias da técnica. Quem era o Povo? Ao serviço de que Povo os militares deveriam pôr as suas armas?
E os políticos cada vez mais nos iam confundindo. Na Revolução houve outra revolução e ficámos convencidos de que íamos, então, caminhar para um socialismo de rosto humano e livre e justo; socialmente justo. E os últimos militares de Abril entregaram completamente o Poder aos políticos e regressaram aos quartéis. Os políticos sentaram à mesa do orçamento todos quantos quiseram; disseram adeus ao socialismo de rosto humano e deixaram que o homem fosse, outra vez, lobo do homem. Não satisfeitos, depois de espoliarem o Povo (qual Povo?) de direitos básicos reduziram e calaram os militares que há muito tinham posto cravos nas suas espingardas.
Abril é uma saudade…
Obrigado, meu estimado Professor e especial Amigo, por esta sua comovente homenagem ao 25 de Abril.
Foi de facto um "Abril já distante" 33 anos. Mas mais distantes estão hoje os ideais com que então sonhámos.
Foi, como diz, "um Abril muito breve". Como foi isso possível? Será que "Justiça, pão, verdade" eram exageradas esperanças, como hoje escreveu no Público Vasco Pulido Valente? Não, não o eram...não o são! E por essas esperanças vamos persistir.
O «Fio de Prumo» recebeu a 24 de Abril do blogue «Do miradouro» o prémio Thinking Blogger Award, um selo para colar no próprio blogue, que promove a divulgação de memes (genes culturais de Richard Dawkins) e que implica a eleição de '5 Blogues Que Me Fazem Pensar'.
E os meus eleitos são:
«Livre e Humano», um blogue onde a sensibilidade anda paredes-meias com a verticalidade e profundo saber clássico;
«DEPROFUNDIS», um blogue leve, mas pleno de humor e sentido crítico onde o lado sério da Vida tem sempre um sabor especial;
«Mimo e maresia», um blogue cheio de ternura, sensibilidade e simpatia;
«APARAS DE ESCRITA», um blogue que, do lado de lá do Atlântico, de terras do Brasil, nos dá conta de como um Português olha outras realidades;
«VOZ SURDA», um blogue que durante muitos meses a fio procurou manter um canal de informação aberto para todos os navegantes da blogosfera poderem ter acesso ao que de mais notável acontecia em Portugal e, em especial, aos militares portugueses (esperamos que o seu autor reconsidere e retome a actividade que vinha desenvolvendo).
O «Fio de Prumo» agradece esta distinção ao amigo «Do miradouro» e, como não podia deixar de ser, a todos os visitantes deste blogue; amigos que, com as suas ideias e comentários, seriam igualmente merecedores, também, deste prémio.
«O Fio de Prumo» passa aos seus nomeados a honrosa obrigação de dar continuidade a esta cadeia de divulgação de blogues por cada um de vós eleitos.
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