16 de janeiro de 2009

A REPÚBLICA QUE FALTA ...

Um dos argumentos mais utilizados pelos defensores de regimes políticos apartados da Democracia é o da Ilustração e o da Competência. Assim, segundo eles, os ignorantes e os iletrados não deveriam possuir voz activa nas mais importantes decisões da vida social. Falam em abstracto no mérito intelectual e no conhecimento teórico e técnico de uns tantos, conferindo só a esses o “mérito” e a “capacidade” para gerir os interesses da colectividade. Os demais seriam uma espécie de “exército de reserva” – a terminologia de Marx revela-se concludente – para concretizar os objectivos sapientes e competentes desta hoste de iluminados. Tal discurso teve a sua voga e a sua pertinência até à revolução industrial. Na primeira metade do século XIX ainda se faziam ouvir vozes de estudiosos do fenómeno social, como Villermé ou Buret, defendendo que as chamadas “classes laboriosas” não necessitariam de quaisquer nutrientes espirituais, bastando-lhe, quando muito, os rudimentos da escrita, da leitura e do cálculo. Foi necessário um longo e porfiado combate, travado com firmeza e decisão pelos republicanos europeus, para que a maioria viesse a adoptar o ponto de vista segundo o qual um País será tanto mais eficaz – para já não falar nos valores da Justiça e da Felicidade – quanto mais informados e cultos fossem os seus cidadãos. Todos os seus cidadãos, frisemos bem. Mas o problema de agora, no Portugal de hoje – talvez até mesmo em toda a Europa de agora e de hoje – não será o do acesso universal das pessoas à educação e à cultura. O “grande político” hodierno é o que pretende cultivar uma postura de reserva e de ocultismo, uma iniciática solidão, apenas partilhada com meia dúzia de apaniguados. Longe vão os tempos em que funcionários públicos de topo, autarcas, ministros, secretários de Estado, Presidentes da República, etc, davam conta aos seus concidadãos, olhos nos olhos, de quase todos os aspectos fulcrais da sua administração. Como as coisas mudaram! E é assim que, de tempos a tempos, acordamos, espavoridos, com a notícia inesperada de que esta figura pública é um celerado, de que aquele antigo ministro é um biltre, de que aquele alto servidor do Estado é o braço (que finalmente se entremostra) de uma “Cosa Nostra” qualquer … Falta transparência e dignidade a esta política e a estes políticos. Digamos a verdade toda: nesta República Portuguesa falta, antes de tudo, muito mais República.

1 comentário:

Anónimo disse...

ODE À REPÚBLICA QUE FALTA

Ao Prof. Amadeu Carvalho Homem,
brindando por um alto ideal comum.

Para se ser um bom Republicano
é necessário ter-se um coração
liberto de qualquer devassidão,
o que não é vulgar no ser humano.

Há que, de olhos os olhos, ter valor
para fitar de frente a Liberdade,
irmã conatural da Santidade,
que é desde logo o seu melhor penhor.

Com corpo de Mulher representada,
há que saber tratá-la como tal,
honesta, pura, casta e virginal.

Se assim não for, espúria e maculada,
como ao presente aliás se manifesta,
a escultural República... não presta!

João de Castro Nunes