Depois desta arenga, o velho chefe expirou. Foi então que PSkvai, PCkfoi, CDSktem BEkleva e PSDktraz se reuniram em conclave para resolver como deveria ser gerida a tribo. Após longa discussão, foi decidido que os 1500 peles-vermelhas seriam chamados periodicamente ao terreiro central do acampamento para colocarem dentro de um bornal, colocado junto ao totem, uns papelinhos onde cada um escreveria o nome de um dos cinco filhos do finado, passando o mais escolhido a governar por períodos contados.
Foram feitas cinco consultas à tribo, nos vinte anos seguintes. Mas ao longo de todo esse tempo, PSkvai manteve um comportamento que o singularizava, mais do que nunca, como mariola, calculista e hipócrita, revelando a palidez do seu rosto que o vermelho da pele ia enfraquecendo progressivamente, por perda da identidade que tivera nos recuados tempos do saudoso chefe; por seu turno, o PCkfoi, confessando-se a favor “das mais amplas liberdades”, passou a distribuir socos e bofetadas a todos os seus oponentes, no decurso de manifestações de jovens índios em estado de apoplexia concentracionária, no fim das quais todo o mundo dizia que não vira nada e que “pedir desculpa, nem pensar” ; não foi muito outra a acção do CDSktem, o qual, para fingir solidariedade social, passou a esconder as manadas de cavalos puro-sangue, de arreatas presas nas traseiras da tenda, fazendo-se transportar, sobretudo nos calendários próximos das auscultações, em pilecas miseráveis, lazarentas, malcheirosas e a caírem de velhas e de podres; quanto ao BEkleva, continuou a pretender embasbacar a tribo com novas questões bizantinas, que nem ao diabo lembravam, como a dos direitos das térmitas a uma sexualidade desinibida e a da revelação completa da nudez das minhocas desde a alvorada ao sol-posto, tudo em nome de uma coisa que chamavam socialismo e que era esmiuçado em festins asiáticos, onde corria o vodka, felizmente sem laranja (este só é servido na Câmara Municipal de Coimbra), mas com um chulé intelectualóide indesmentível; o PSDktraz também não escapava a tão mofina sorte, dizendo hoje o que amanhã desdizia, arrastando-se em bailado patético e andando sempre a perguntar-se: “Será que sou liberal? serei, talvez, demo-liberal? ou antes, quiçá, democrata com tintas de social? ou até, eventualmente, social com pingos de democrata? Ora, ora, o que eu quero mesmo é que me não chateiem e me deixem arear os tachos”.
A tribo, reunida junto ao totem, foi votando, votando, e rosnando a sua insatisfação por tais e tão ordinários sevandijas. Na primeira eleição participaram 1482 peles-vermelhas; na segunda, 1050; na terceira, 480; na quarta, 35; e na quinta, 6 (os cinco filhos do velho chefe e o feiticeiro da tribo, que tinha sido ameaçado por eles de perder o lugar se não votasse). Contados os votos, verificou-se que havia um voto nulo, devido a um palavrão nele escarrapachado, e que cada filho (do defunto, bem entendido) angariara um voto. Todos se proclamaram vencedores, com uma nutrida e inteligente percentagem de votos.
Consta que a tribo acabou por pedir asilo político aos Mohicanos. Ficaram no acampamento os cinco filhos (do defunto, bem entendido) e o feiticeiro da tribo, que um dia apareceu enforcado no totem, com um papel por baixo, dizendo: “prostituta que os gerou”. Os filhos (do defunto, bem entendido) não perceberam a profundidade da mensagem. Eu também não …
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