13 de novembro de 2009

A QUESTÃO DECISIVA DO ENSINO


A Drª Maria de Lurdes Rodrigues foi substituída, na tutela do ensino secundário, pela Drª Alçada, que é best-seller de livros infanto-juvenis, ou seja, adequados a teen-agers. Haja Deus! Já era tempo! Mas uma simples substituição é insuficiente para purgar a intoxicação pretérita a que foi sujeito o sistema de ensino correspondente. A Drª Lurdes Rodrigues não se livrará do veredicto da História: foi a pior responsável da pasta que sobraçou, desde os tempos da monarquia constitucional. Não lhe cabem apenas estas miserandas responsabilidades. Elas têm de ser partilhadas com um governo, no seu todo, que quis demonstrar à Europa que seria possível, por um golpe de mágica, converter uma população primária, ignara e culturalmente deficiente, numa Grei comparável à que existe em territórios de além-Pirenéus. Que se fez para isto? Montou-se uma máquina estatística de facilitismo e irresponsabilidade cuja essência convertia os imbecis profundos em sábios inesperados. Depois, estabeleceu-se a monumental burla das "Novas Oportunidades". Um beneficiário das "Novas Oportunidades" é um bronco irremediável cuja titulação e credibilidade académica é obtida através de um sistema de inquérito a “capacidades” ilusórias. Um júri, ou um simples serventuário desta desgraça, pergunta ao "Novas Oportunidades": - “Diga-me cá, como é que se manda uma carta pelo Correio?”. E o potencial génio, a gaguejar, responde: - “Eu cá pego num selo, unto com saliva e faço seguir por correio normal ou azul, conforme joguei ou não no Euromilhões”. E o avaliador, siderado por tamanha plasticidade mental, retruca: – “Muito bem, o Senhor está apto para ir para a Universidade !”. E o pobrezinho … vai. A Drª Lurdes – ou alguém por ela – foi responsável por este despautério. A questão que se coloca consiste em saber se a Drª Alçada continuará a homologar esta vigarice legal. Mas o problema de fundo nem é exactamente este. O busílis desta droga está em saber se a orientação governamental perseverará ou não em converter os Professores do ensino secundário em amanuenses de formulários patetas. Hoje, um Professor do ensino secundário não tem espaço psicológico nem tempo mental para reflectir sobre a sua missão, para preparar cuidadosamente a sua aula, para auscultar as suficiências deste aluno brilhante, que urge promover, ou os défices daquele outro aluno deficitário, que importa amparar. Também não lhe é consentida margem de manobra para frequentar colóquios, congressos ou acções de formação, a menos que essas extravasem os tempos “obrigatórios” reservados à Escola, como se nesta se esgotassem todas as oportunidades de valorização, como se ali não proliferasse o tédio, a mediocridade e, em muitos casos, a sabuja intenção de lisonjear quem está "em cima". A tutela, na ânsia de funcionalizar esta bolsa de docentes, ajouja-lhe a missão com o preenchimento de formulários cretinos, de tabelas rombas, de inquéritos imbecis, de levantamentos fantasmáticos. E tudo isto já converteu a nobilíssima missão do ensino numa ópera bufa de Offenbach, onde nem sequer falta um General Boum, ventrudo e crasso, assumindo habitualmente a forma de um Secretário de Estado, que opina, entre flatulências de estômago ou de ventre, que “estes professorzecos precisam de ser metidos na ordem”.

Uma Pátria digna de si, honra os seus Docentes como o mais precioso capital de Futuro. Uma coelheira malcheirosa e desqualificada converte os seus papagueadores de livros únicos numa cáfila de serventuários babosos, de rojo perante os manipansos do Poder. O que o Engenheiro Sócrates tem de informar - e depressa – é se quer ser Primeiro-Ministro de uma Nação ou de uma capoeira.

É que, Senhor Primeiro-Ministro, todos nós sabemos que há quem prefira o bónus do ensino feito à pressa. Há que lhe perguntar para que lado propende a sua opção.

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