25 de abril de 2010

APESAR DE TUDO ...


Apesar de tudo o que tenho a censurar-te
apesar de tudo o que foste, reticência do belo
sem tornares a ser...
Apesar do gosto a mel volvido em agridoce
Apesar do sonho que prometeste
e roubaste sem pudor
Apesar da glória aberta em flor
transformada em dor
Apesar do que um dia te murmurei
em casta confissão
Apesar do que ficou vazio
na suplicante mão
Apesar do Povo em delírio
que não resgataste
Apesar do cravo em martírio
que não entendeste
Apesar de ti que não escutaste
Apesar de mim que não te dei razão
Apesar de todas as bocas abertas em confissão
Apesar de todas as preces laicas em silêncios mil
Apesar de tudo e contra todos
Se preciso for
Vem até nós, oh rutilante Abril
E seja a minha voz a sombra da Verdade
E seja o meu cuidado a luz dessa Saudade
E seja o meu destino
O fiapo do hino
Que ficou por cantar
Abril e sempre Abril
Oh terra de Bondade
Abril e sempre Abril
Oh ramo d'ansiedade
Como o da noiva perplexa por cumprir
Como o da criança reflexa por nascer
Abril abriu-se por dores desconhecidas
Abril viveu-se em casas destruídas
E apesar do silêncio por dizer
Abril é nosso no íntimo do peito
Para poder dizer que chegará um dia
Que um dia chegará para ficar
Como aquele canto de melro ou cotovia
Que cada Primavera quer guardar.

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