26 de janeiro de 2012

O FERIADO DO 5 DE OUTUBRO E O SILVA-JOURDAIN



Parece que o Governo insiste no propósito de liquidar o feriado de 5 de Outubro, no dia que lhe quadra pelo calendário, argumentando que ele pode ser comemorado no domingo seguinte. Que este Governo insista nesta miserável proposta, não é, para nós, motivo de espanto. Quem nos governa é um pobre e descerebrado bando de apátridas, um rebanho tecnocrata e inculto de boçais, um coio de gentalha que nada sabe do País, da sua História, das suas raízes, da sua Verdade essencial e da sua matriz eterna. Por aqui, portanto, nada de novo. Mas o Governo não pode, só por si, levar por diante o seu projecto antipatriótico sem o aval da Presidência da República. O titular desta Suprema Magistratura terá de a confirmar, referendando o dislate governamental. E é aqui que a cena anima. Porquê ? Porque será uma singularidade digna de Molière espreitarmos o actual ocupante do Palácio de Belém no seu miserável acto de referenda. Este PR e todos os demais só ocupam o cargo, só são Presidentes da República, só detêm em si a sacralidade simbólica da suprema representação de Portugal porque , num certo 5 de Outubro de 1910, houve quem se tivesse batido de armas na mão, houve quem tivesse arriscado a vida, a fazenda e a liberdade, para que as Instituições pudessem mudar, dando origem às que hoje se encontram em vigência. Pelo que sabemos do Silva, temos como certo que ele nem pestanejará na concessão da sua concordância. Era exigir-lhe demais, se lhe fosse solicitado um acto de nobreza. Era uma demasia para a sua vileza endógena, para a reles liga somática e anímica de que é feito. Assim, aguardaremos sem expectativa mas com memória justiceira o dia em que o Silva, renegando o património de Manuel de Arriaga, Teófilo Braga, Bernardino Machado, Canto e Castro, Manuel Teixeira Gomes, Mário Soares, Jorge Sampaio e outros (para quem quiser outros evocar), o dia, dizíamos em que o pedinte (é-o, sem dúvida) de Belém, pagar ao Coelho e ao seu Governo o tributo da indignidade, fazendo-lhe a vontade. Não foi por acaso que evocámos Molière. É que foi ele que, através da figura imortal de Monsieur Jourdain, colocou no palco um ser humano que "fazia prosa sem dar por isso". O Silva, no dia em que empunhar a sua canetinha para "fazer o frete" ao Coelho, colocar-se-á exactamente na posição homóloga à de Monsieur Jourdain. Ele será então, de acordo com a sua vocação de sempre, Presidente da República ... sem dar por isso.

3 comentários:

João de Castro Nunes disse...

TRAMADOS!

Que espera, Professor, desta maralha
à frente dos destinos da nação
em cuja mente tudo se baralha
sem qualquer sombra de imqaginação!

Confundem tudo em termos culturais,
os alhos misturando com bugalhos,
sentando-se nos mesmos cadeirais
políticos, gatunos e bandalhos!

A Pátria, Professor, está de rastos,
havendo-se perdido num chiqueiro
a bússola dos nossos grandes fastos!

À pelintrice quase reduzidos,
até para arranjar algum dinheiro
já nem no prego... somos atendidos!

JOÃO DE CASTRO NUNES

João de Castro Nunes disse...

A nação, Professor, está perdendo
dos grandes fastos a recordação,
dia a dia caindo num tremendo
estado de apatia e prostração!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Cont. para soneto:

Quando um país, um povo, como entendo,
entra em processo de auto-negação,
como parece estar acontecendo,
já só lhe resta a esmola de um caixão.

São vozes como a sua, Professor,
desassombradas e autorizadas,
que o podem despertar deste torpor.

Avante, pois! Há que evitar o abismo
que se avizinha a trágicas passadas
com seu tão singular patriotismo!

JCN