10 de julho de 2012

HUMMMM ...

Perante a pergunta daquele jornalista o Ministro tossicou, vocalizou algo parecido com um “hummm” e seguiu intrepidamente em frente. Os jornais do dia seguinte dividiram-se na interpretação dos factos. “O Clarim”, periódico claramente alinhado com os sectores mais críticos da oposição, escreveu: “Reina o desnorte completo nos arraiais da governação. Perante uma pergunta tão simples como aquela que lhe foi submetida, o incompetente Ministro verbalizou algo de incompreensível, furtando-se ao cabal esclarecimento da situação. Assim se afere da irremediável incompetência que assola os actuais detentores do mando. Pobre Portugal!”. Por seu turno, o jornal “ A Voz do Povo”, muito próximo do elenco governamental, reagiu assim ao crocitar ministerial: “ O Ministro andou bem. Há assuntos da pública administração que só ganham em ficar sob reserva. Os altos interesses da Pátria não se compaginam com excessos de curiosidade ou de impertinência provenientes de escrevinhadores de pacotilha ou de publicistas de meia-tigela. Feliz o Povo que possui responsáveis deste quilate, cautos, contidos e inteligentes”. Era este último órgão de imprensa que estava a ser lido em casa do Senhor Januário Sardinha, o qual quis verificar se a versão dos factos expostos correspondia à média do entendimento público. Chamou então o seu filho mais velho, o Gustavo, rapazote de doze anos, e interpelou-o da seguinte forma: “Olha lá, rapaz, se me for feita uma pergunta qualquer e se eu responder ‘hummm’, o que é que tu concluis?”. Ao que o filhote replicou: “ Bem, Senhor Pai, tudo vai de saber em que lugar da casa vossemecê está. Se estiver a falar no quarto com a Senhora Mãe, é sinal que nem sequer ouviu o que ela esteve a dizer. Mas se estiver no quarto de banho, aí de certeza que está de prisão de ventre”. Se o Januário Sardinha soubesse um naco de filosofia, decerto concluiria que o seu rebento havia feito uma exegese perfeita.

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