16 de janeiro de 2013

O DRAMA DO MARIDO DA MADAMA

Quando se discutia, aqui há uns anos, a viabilidade de um sistema económico e político para Portugal, havia quem sustentasse coisas que nos pareciam ter sentido. Os defensores do sistema capitalista afirmavam, entre vários outros princípios, o seguinte : os seres humanos são portadores de desiguais capacidades de apego ao trabalho e é justo que os que mais e melhor trabalham acabem por angariar maiores vantagens para a sua vida pessoal, ganhando mais e tendo uma vida mais confortável. Este argumento caracterizou adequadamente uma fase do desenvolvimento do capitalismo no nosso país, o qual pode ser designado por capitalismo individualista. Mas ao longo do tempo as coisas foram mudando. O burguês mediano, aferrado a um trabalho bem remunerado e com um nível de vida compatível, viu crescer ao seu lado, tentacularmente, a realidade da Alta Finança. Esta mora distante de si. Não tem rosto. Não bebe o café com ele. Não lhe frequenta a casa. É anónimo. A crise actual permite esclarecer este burguês de uma comezinha realidade : o capitalismo já não é o que era. E “está-se nas tintas” para o pequeno e médio burguês. Anichou-se todo atrás da couraça dos bancos, das grandes companhias de seguros e das multinacionais. E o nosso pequeno e médio burguês, em declive para a mendicidade acelerada, pergunta-se pelas sólidas realidades de outrora : as de um trabalho bem remunerado, que lhe permita o gozo honesto de um jantarzinho num bom restaurante ao fim de semana, com a Madama, e de umas férias em Acapulco ou no Varadero. E conclui que isso foi chão que deu uvas. A Alta Finança rouba-lhe tudo: o bom salário, a pensão folgada, a casa de cinco assoalhadas, as férias na estranja e a jóia que ele costumava oferecer à Madama quando ela fazia anos. O capitalismo dos banqueiros e financistas internacionais virou a página que narrava as aventuras e delícias deste capitalismo individualista, e tanto se montou nos lombos do trabalhador por conta de outrém como nos cachaços destes burgueses individualistas, que hoje vemos, meios assarapantados, continuando a votar em partidos de Direita, sem perceberem nada do que lhes está a acontecer, enquanto não os espoliam da casa, do carro, das férias … e talvez da própria Madama, se ela for louçã e bem apessoada.

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