12 de janeiro de 2013

UM PORTUGAL QUE O FMI DESCONHECE

O memorando do FMI acerca das desejáveis “reformas” a introduzir em Portugal constitui a prova mais evidente do seu total desconhecimento acerca do País que pretende intervencionar. Encerrado o ciclo do Império, Portugal ficou reduzido ao seu território afonsino e às sua ilhas adjacentes. Destas últimas, desvaneceu-se consideravelmente o interesse estratégico dos Açores, a partir do momento em que os Estados Unidos da América os declaram menos relevantes. A Madeira é um simples entreposto turístico e dificilmente poderá ser outra coisa. Ou seja : Portugal vale e valerá o que puder provar o seu território continental. As duas vocações tradicionais deste Portugal – a agricultura e as pescas – foram-nos confiscadas, por assim dizer, a partir da integração do País na Europa. Que resta ? Resta uma economia de serviços , sobretudo uma economia de serviços estatais. É um facto que o sector administrativo público sofreu , a partir do 25 de Abril de 1974, um inaceitável e excessivo empolamento. Mas isso não retirou à máquina administrativa do Estado a sua função equilibradora , no que toca à garantia de subsistência que proporcionava a uma significativa parte da população. Ou seja : a condição de funcionário público constituiu, desde sempre, um cimento aglutinador da organicidade social portuguesa. Não existem em Portugal funcionários públicos “porque sim” ; existem entre nós funcionários públicos porque tal actividade se perfila, para grande parte dos portugueses, como o único meio de vida. É sabido que esta visão é vigorosamente negada pela tecnocracia dominante. Diz esta que não senhor, que há que inovar, que há que incentivar a iniciativa privada, que isto é a visão do Passado e que outro será o Futuro. Infelizmente (ou talvez não), Portugal é o que é : uma formação social pobre, periférica e completamente dependente do exterior. Como realidade económica, Portugal possui fracos recursos ou, pelo menos, possui recursos em pousio, sendo o mar o maior e melhor deles todos. Mas parece não ser por aqui que quer ir quem nos governa. Verdade seja dita que quem nos governa também não confere objectividade às tais e tão decantadas “novas oportunidades” de uma “ nova “ Política e de uma “nova” Economia. O que se verifica é a tentação de descompensar inteiramente a hierarquia da Função Pública, diminuindo-a drasticamente na base, para a fazer crescer no topo ou, pelo menos, para fazer acrescer até ao limite máximo as benesses desse tal topo. O tal mundo de negócios prometido pela tecnocracia tem vindo a provar ser o território dos negócios crapulosos, da empenhoca siciliana, da especulação desenfreada e do financismo ladravaz. Para que Portugal se converta socialmente numa espécie de sociedade de tribalismo engravatado ou de miserabilismo apodrecido – e sem hipóteses de regeneração – só falta despedir da Função Pública os milhares de trabalhadores referidos pelo memorando do FMI.

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