
28 de janeiro de 2007
ANTERO E A ESPERANÇA

22 de janeiro de 2007
SOBRE A PERCEPÇÃO

_ Ora, meu bom amigo, as praias não têm cor. Ou por outra, são como entendemos que devem ser. Vermelhas, amarelas, azuis, se estamos contentes; castanhas e cinzentas quando nos encontramos tristes.
_ Mas as coisas, materialmente consideradas, isoladas de nós, devem ter em si próprias um princípio de distinção, não acha? Repare, por exemplo, naquela rapariga além, tão coleante, tão proporcionada, tão vibrátil no menor dos gestos, tão lasciva em cada atitude. Desperta-lhe apetites, não negue ! Poderia dizer dela: é o Desejo. Deste modo, teria quebrado a referência ao seu instinto macho daquelas pernas bem torneadas, daquela cintura de vime, daqueles seios, opulentos mas não flácidos, daquela boca, sensual sem ser grosseira. Aquela jovem, uma vez substantivada, ficava erguida aos píncaros da simbologia. Passava a ser universal. Que me diz?
_ Digo que se as praias, em si mesmas, não têm cor, também as mulheres, em si mesmas, não têm sexo. Não há símbolos universais. Imagine com que indiferença um gay não poderá fitar toda aquela exuberância. E vá então dizer-lhe que ela é o Desejo. Você já comparou a interpretação escultórica dos corpos femininos em Rafael e Henry Moore? Num, a harmonia de linhas, a simetria dos volumes, a compatibilidade das formas. No outro o excesso das anatomias, os traseiros larguíssimos, as coxas como rolos de pinheiros, as mamas, por vezes, desiguais. Onde é que você vê a simbologia universal?
_ Mas então, se não há cânones, se não há regras, se não há modelos, onde é que você mete a verdade?
_ Meto-a onde ela sempre esteve. No relativo de quem sente, de quem vê, de quem pensa, de quem é ou vai sendo.
... ... ... ... ... ... ... ... ...
_ Qual é a cor que quero dar a esta praia?
_ Muito bem, assim talvez esteja melhor ...
19 de janeiro de 2007
FRAGMENTO PARA UM EPÍLOGO

Se tiveres, um dia, de pensar em mim
Como uma coisa vaga, pretérita e arcaica,
Não te queiras culpar, por ter chegado ao fim
A romanesca trama da nossa história laica.
Pondera, antes, que o tempo é conselheiro
De toda a criação, de toda a criatura.
Dá-me , então, carinhosa, teu beijo derradeiro
E deixa que te guarde no limbo da ventura...
.... .... .... .... .... ....
16 de janeiro de 2007
MUDAR

11 de janeiro de 2007
O CÉU E A TERRA

7 de janeiro de 2007
A ELEGANTÍSSIMA POLÍTICA LOCAL

No entanto, surgem por vezes fenómenos aberrantes, oscilando entre o provincianismo e a má-criação. Imaginam alguns que fazer oposição séria, consistente e eficaz é escreverem textos em péssimo português, mas inçados de vocábulos grosseiros, de alusões de taberna e de deselegância q.b. (quanto baste).
Tenho verificado que a última inovação neste caceteirismo incipiente, neo-miguelista e rasteiro, é a supressão dos títulos académicos que os adversários, reais ou supostos, legitimamente conquistaram, uns em provas públicas, outros em exames inatacavelmente legais. Esta prática não é sequer uma particularidade local. Descende em linha recta de muito Senhor Deputado, com fato, gravata e sapato de polimento, da Assembleia da República. Daí se espraia por alguns Digníssimos Presidentes da Câmara, das Juntas de Freguesia, dos Bombeiros ou das Confrarias Gastronómicas. Como se sabe, há na política um mecanismo endógeno chamado maniqueísmo. Esta perversão, que é também um sintoma de miséria mental, consiste na atribuição do foro angélico aos nossos correligionários e na diabolização projectada sobre os oponentes. Imaginemos que um destes exemplares de políticos feitos à pressa quer atacar um adversário que é profissionalmente engenheiro. Ele nunca o designará por Senhor Engenheiro Costa (partamos do princípio que a “vítima” se chama Costa) ; conforme o agravo e a fúria combativa do Sagitário, o infeliz visado tanto poderá ser o Engenheiro Costa (com supressão da Senhoria), como o Senhor Costa (com supressão do título académico e profissional), como o Costa (com supressão de ambos, ou seja, da Senhoria e do título). Estes políticos improvisados não se dão conta que o máximo que conseguem, com a sua furibunda e ridícula linguagem, é que os julgadores finais das suas palavras, ou seja, os cidadãos-eleitores, tenham por eles um sentimento de comiseração, temperado por algum vestígio de repugnância, sentimento que decorre de uma coisinha – acessória nos dias de hoje, mas verdadeiramente fundamental em todos os tempos – que se chama … Cultura.
Convido os eleitores de Coimbra a atentarem na forma cavernícola, primária e rebaixada como alguns dos nossos políticos (???) locais, em actividade, para mal deles e nosso, exercem hoje a sua função, nos diversos actos através dos quais nos representam. E deixo um desafio a tal gente : o de que, doravante, levando ao limite a sua rudeza e a sua carapaça de “casca-grossa”, passem a designar cada adversário pessoal ou político como o Gajo, o Coiso ou o Magano. É isto que lhes vai a carácter …
2 de janeiro de 2007
PROCURA
Muita gente pressurosa
Atrasava-me o percurso ...
Eu afinava o discurso
A fazer com tino e fé.
Chovia muito e crescia
Na minh'alma aventurosa
Essa imagem buliçosa
Que jamais desaparecia.
Oh! fim de tarde tão cheia
Da virtude do teu rosto
Onde Deus houvera posto
A fome da minha ceia.
Fui procurar-te ao café
No meio d'um vendaval
E julguei-te minha igual
Na parceria e na fé
(Só sentida por quem é
Apaixonado e fatal)
Era meu deslumbramento
Um sinal de fresca idade
Regada num fim de tarde
Pelas rajadas do vento.
Quando cheguei ao destino
Não vi de ti nem sinal...
Enjoei, senti-me mal
Desmaiei, perdi o tino.
Oh minha dor destilada
Num fim de tarde molhada
Pela forma do teu rosto !
Vinho novo do meu mosto
Capa de cor dum caderno
Desejado como eterno
Em vigílias e procuras
Por febris noites escuras.
Oh saudades peregrinas
Em demanda de meninas
Cujas galas me fugiram
Em cafés provincianos
Que meus olhos nunca viram.
Praza a Deus que nunca pares
Num lugar habitual
E que eu, pobre, te procure
Num dia de vendaval
Por territórios e mares.
Por territórios e mares.
Praza a Deus que não te encontre
Num café com chuva a rodos
Num fim de tarde com todos
Os sinais de tempestade.
Preciso de ti assim
Nesse silêncio sem fim
Duma imagem encontrada
Onde não se encontra nada
Num tempo outoniço, mudo,
Quando afinal, meu amor,
Na poesia é que está tudo!
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