7 de fevereiro de 2007

SÓCRATES OBEDECE À MAGISTRATURA

Entendamo-nos: não sou partidário da praga, do palavrão ou da invectiva grosseira em qualquer acto criativo. Mas não faço desta rejeição um dogma (aliás, o único dogma que perfilho é o da relatividade da vida, das coisas e dos saberes). Numa altura em que o Conselho Superior da Magistratura suspende um juiz, acusando-o de empregar “linguagem obscena” num blogue, urge que a Cidadania livre dê um passo em frente e, pelo menos por solidariedade para com este juiz, __ que eu completamente desconheço __ , coloque à disposição do dito Conselho Superior uma transgressão similar. Aguardo desse douto órgão a correspondente nota de culpa e, para lhe poupar o trabalho de investigação, aqui declaro que moro na Ladeira das Alpenduradas, nº 13 A, em Coimbra. Já agora, também acrescento que sou professor universitário; ou seja, também juiz, portanto, no âmbito das matérias que lecciono. Por tudo isto, dedico o poema que se segue ao irrepreensível, grave e puritano Conselho Superior da Magistratura.


Tranquilo,
Sócrates bebeu
A cicuta
Da cidade.
A cidade ?
Grande puta !
E Sócrates ?
Grande idiota
D'alma bamba
D'alma rota
Que decidiu morrer
Sem saudade
E sem luta
Contra a puta
Da cicuta
Da cidade.

2 comentários:

Luís Alves de Fraga disse...

Não resisto, na minha falta de tempo, somente duas palavras: corajoso (sabia-o há muito) e solidário (sabendo-o, não o imaginava tão pronto na acção).
Será que o Supremo, aos blogs dos militares, não dê tanta importância, porque militar não julga nada e deles só se espera linguagem caserneira? Todavia, vou "prevaricar". Tendo o meu Amigo por companheiro, é um prazer correr o risco.
Um grande abraço

Anónimo disse...

Prof. considero sua coragem admiravel, tambem. Daqui do outro lado do atlântico acompanho esse caso de moralismo. será que é moralismo ou perseguição política? Que interesses esse juiz vem incomodando?