30 de outubro de 2007

SEGREDO

Quero dizer-te uma coisa ao ouvido
só p’ra ti.
mas tens de prometer-me
que do que te disser
nada será revelado.
Um segredo? É isso
querendo eu que fique bem guardado
dentro de ti.
Talvez um dia o possas dizer
(sabe-se lá)
a um filho, a um amigo,
a um amante
e a todos pedirás
como eu o faço agora
que tudo fique guardado
e secreto
num tempo e numa hora.
Há coisas mil que ninguém pode
confessar.
Mil coisas há que todos podem
amar.
Do mesmo modo que existem
(oh, se existem)
amores inconfessados
parados
nas gavetas do tempo
ou nas pregas
da memória.
Tu sabes lá
como em certos momentos
o mundo todo
imenso, poderoso e discordante
vem ter conosco
e nos responde
a cada paradoxo
suplicante.
Tu sabes lá
por que paragens
vogou meu livre pensamento
em que viagens
sulcou por terra e mar
o mundo todo.
Tu sabes lá
com que estranha estranheza
inventamos a natureza
de uma pequena decepção
ou o marulhar do mar
de uma imensa paixão.
Não, tu nada podes saber
de tudo isto
pois ficaste encalhada
(coitada, coitada)
entre Maomé e Cristo
pois ficaste ancorada
nesse canto
obscuro.
Vem , anda cá
ouve enfim meu segredo
vem até mim
sem ontem e sem medo.
Estende-me a concha desse ouvido
ávido de verdade
e de ilusão
Ouviste bem agora?
Não?
Que pena!
Passou por mim a hora
De tal inconfidência.
E agora?
Agora nada !
Fiquemos por aqui
tem paciência …


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